terça-feira, 14 de maio de 2013

Sete dias para viver - continuação (parte final)

Olá pessoal!

Podem me bater! Eu mereço!
Peço mil desculpas por ter passado quase duas semanas sem postar nada por aqui, é que eu andava ocupada, e além disso, eu também estava concentrada em terminar essa bendita fanfic! rsrs

Como vocês já devem saber, essa fanfic foi um presente de aniversário do blog, então, eu não poderia de forma alguma deixa-la de lado para elaborar outras postagens, afinal, eu me comprometi em escrevê-la o mais rápido possível (um presente de aniversário não pode demorar tanto tempo para ser entregue, não é? rsrs por isso fiz o impossível para termina-la logo).

Pois é, finalmente terminei de escrevê-la e agora poderei voltar a minha rotina normal de postagens (rsrs)

Vamos comemorar! Ebaaaa! \o/

Finalmente poderei voltar a escrever minhas outras fanfics (Amigos de infância, A parede de cristal e o Príncipe de Cheonan) que, aliás, estão muuuuito atrasadas. Também tenho muitas resenhas de dramas e animes para fazer, e além disso, não posso esquecer dos OMCEs (que estão super atrasados!).

De qualquer forma, mesmo tomando meu tempo, foi bastante prazeroso escrever Sete dias para viver, e eu fiquei muito feliz pelos comentários que recebi (e ainda estou recebendo) no Nyah Fanfiction (site onde eu posto minhas fanfics).

Como nessa semana tenho prova, infelizmente não poderei postar mais nada (T-T), mas prometo que na próxima semana trarei uma boa postagem para vocês!

Agora vamos ao que interessa!


Logo abaixo vocês verão a terceira capa da fanfic que eu mesma desenhei, e em seguida os oito capítulos finais (sim! isso mesmo! OITO capítulos! Por isso eu demorei tanto para terminá-la rsrs).

Desfrutem!

Sete dias para viver


Capítulo 11

No dia seguinte, pela manhã, andamos de bicicleta num bosque repleto de árvores floridas e, enquanto pedalávamos, sentíamos aquele maravilhoso frescor da primavera. As árvores mais altas cobriam parcialmente a visão do céu azul, e por isso podíamos ver diversos feixes de luz que se refletiam na estradinha de solo avermelhado.

Encontramos um enorme salgueiro e resolvemos ficar embaixo dele para descansar um pouco. Deixamos nossas bicicletas no chão e sentamos perto da árvore. Meu desejo número 8, que era desenhar ao ar livre, algo que eu só havia feito uma vez na vida quando era criança, também foi realizado. Como fazia muito tempo que eu não desenhava, a minha habilidade já não era das melhores, porém, mesmo assim resolvi tentar desenhar o rosto de Brian. O desenho não ficou muito bom, e depois de vê-lo, Brian começou a rir de mim.

-Eu não sou tão feio assim, sou? –perguntou ele, contendo o riso.

-Fiz o melhor que pude! Pare de zombar de mim! –falei irritada, arrancando a folha de papel com o desenho das mãos de Brian, que começava a gargalhar.

-Mas não se parece comigo, isso é um alien! HAHAHAHAHA! –zombou ele, já sentindo uma dor na barriga de tanto rir.

-E você sabe desenhar melhor do que isso? –desafiei, encarando-o de um modo ameaçador.

-É claro! É só me dar uma folha de papel e um lápis que eu desenho você num instante! –disse ele todo convencido.

-Se você diz... Então fique à vontade! –falei de modo rude, entregando o bloco de folhas de papel e o lápis para ele.

Brian me olhou com uma expressão muito séria e concentrada. Pegou o papel e o lápis, começou a rabiscar de um jeito muito profissional. Primeiro, ele olhava para mim, depois abaixava a cabeça e rabiscava algo no papel, segurando o lápis com uma leveza impressionante. Será que além de fotógrafo ele também era desenhista? Pensei.

Antes que eu me perdesse em meus pensamentos supondo que Brian também era um profissional do desenho, avistei uma coisa estranha ao longe, em meio às árvores.

-O que é aquilo? –falei, e Brian logo desviou seus olhos na direção em que eu estava observando.

-Hã? O quê? – perguntou ele, e antes que pudesse obter alguma informação de mim, acabei me levantando rapidamente para sanar minha curiosidade. -Ei, espera! Aonde você vai? Não vai me deixar te desenhar? Ei! –grasnou Brian, porém, era tarde, eu já estava caminhando rumo às estranhas do bosque.

Brian me seguiu e fomos parar num lugar distante da estradinha de terra.

-Para onde estamos indo? –perguntou ele, olhando preocupado em todas as direções.

-Ali! Está vendo? Algo balançando no meio das árvores! –falei, apontando para a esquerda, e Brian forçou a vista para tentar enxergar.

Quando chegamos mais perto, finalmente desvendamos o mistério: Era um balanço construído com cordas e um pneu. Ele estava suspenso numa grande árvore de galhos fortes. O diferencial dele era o fato de estar completamente tomado por folhas e galhos de plantas, como se não tivesse sido tocado por ninguém há vários anos.

-Wow! É tão bonito! –exclamei, observando as pequenas flores que desabrocharam em suas cordas.

-Está completamente envolvido por plantas trepadeiras... Ele provavelmente é muito antigo! –disse Brian, pegando nas cordas do balanço, que pareciam estar se decompondo.

-Vou me balançar nele! –falei, e me aproximei do balanço, pronta para sentar nele.

-Não pode fazer isso!-exclamou Brian em voz altiva.  -Não escutou o que eu acabei de dizer? Ele é muito antigo! As cordas que o sustenta estão podres! Completamente frágeis! Se você começar a se balançar nele, provavelmente as cordas vão arrebentar e você vai levar uma queda! Você vai acabar se machucando nessa brincadeira!

-Eu vou arriscar! De qualquer forma, eu vou morrer mesmo daqui a quatro dias! –repliquei, segurando as cordas do balanço.

-Não vou deixar você fazer isso! –disse Brian, e logo agarrou meu braço, impedindo-me de sentar no balanço.

Olhei para ele de um jeito despreocupado e sorri.

-Não se preocupe, as plantas trepadeiras que estão agarradas nas cordas são muito resistentes! Mesmo que as cordas estejam podres, elas vão conseguir sustentar todo o meu peso! –falei, tentando acalmá-lo.

-Não é confiável... -insistiu ele, apertando meu braço.

-Já disse que não precisa se preocupar! Eu vou ficar bem! Se você não confia em mim, então fique bem aqui na frente. Se eu cair, você me segura! –insisti também, e ele apenas soltou um suspiro de derrota.

-Tudo bem... –disse ele, deixando meu braço livre.

Sentei-me no pneu balanço e dei impulso com as pernas para que ele começasse a se mover para trás e para frente. Rapidamente o balanço foi tomando velocidade e suas oscilações se tornaram bastante amplas. Brian apenas me observava há dois passos de distância. Ele estava a minha frente, com um olhar apreensivo e contrariado. Porém, meu sorriso de alegria e satisfação era tão contagiante que ele rapidamente se esqueceu de que estava bravo comigo. Depois disso, Brian começou a me olhar de um jeito tão meigo, e seus olhos pareciam brilhar de um modo especial. Aquela expressão no rosto dele me deixava muito feliz, meu coração acelerava e sentia-se aquecido por dentro.

Quanto mais o balanço adquiria velocidade e amplitude, aos poucos a corda do lado esquerdo ia se rompendo. Depois da vigésima oscilação, a corda se rompeu completamente, e eu fui arremessada para frente, na direção de Brian, que tentou me segurar.

-KATE! –gritou ele, e esticou os braços para me alcançar.

O resultado dessa tentativa de salvamento não foi muito satisfatório. Caí por cima de Brian de forma tão brusca que nós dois fomos arremessados no chão. Quando me dei conta, lá estava eu, deitada em cima de Brian, e nossos corpos colados um no outro. Estávamos tão próximos que eu podia sentir sua respiração. Nossos corações aceleravam dentro do peito e cada um pôde ouvir as batidas do outro. Brian estava de olhos fechados e abraçava-me com força. Podia sentir suas mãos quentes nas minhas costas, e de repente, uma delas subiu até o meu pescoço, e depois até os meus cabelos.

-Você está bem? –perguntou ele, abrindo os olhos e finalmente diminuindo a força em seus braços que me apertavam.

-Sim, estou bem... –respondi meio constrangida, levantando-me rapidamente e ajeitando o vestido que estava amarrotado. -Mas acho que torci o tornozelo... –completei, após sentir uma forte dor no pé.

-Você é tão teimosa!-ralhou ele, voltando a mostrar sua expressão de menino zangado. -Eu sabia que isso iria acontecer! Mas você não me deu ouvidos!

Vê-lo tão preocupado comigo e ao mesmo tempo tão irritado e constrangido me fez ficar muito feliz, por isso comecei a rir.

-Do que está rindo agora? –perguntou ele. -Você acabou de se machucar... Por acaso você bateu a cabeça?

-Você parece muito fofo agora! –falei, e Brian imediatamente corou de tanta vergonha.

-Va-vamos e-embora! –gaguejou ele, colocando a mão no rosto e escondendo sua expressão envergonhada.

-Sim! –falei, porém, ao dar o primeiro passo, meu tornozelo doeu e soltei um gemido.

Brian me encarou de um jeito preocupado e suspirou.

-Suba nas minhas costas! –disse ele, abaixando-se logo em seguida.

-Hã?

-Suba logo!

Depois de muita insistência, acabei aceitando ser carregada nas costas. Minhas mãos agarraram o pescoço de Brian enquanto ele segurava minhas pernas. Pude sentir seu perfume cítrico, que se misturava a uma fragrância natural que emanava de seu corpo. Atravessamos o bosque e quando finalmente achamos a estradinha de terra, Brian me colocou no chão e depois me levou na garupa de sua bicicleta de volta para casa.


Capítulo 12

Quando o fim da tarde se aproximava, Brian e eu decidimos procurar por um belo parque de diversões para que eu pudesse finalmente realizar meu desejo número 3. Quando chegamos ao parque, Brian não me acompanhou em todos os brinquedos, ele bem que tentou, porém, seu medo de altura não lhe permitiu brincar na montanha russa, nem na roda gigante, e nem no barco viking. Porém, tivemos a oportunidade de brincar juntos no carrinho bate-bate, no carrossel (e Brian fez birra para não ir, porém acabou indo e ficou tão envergonhado que mal olhava para mim), nas barraquinhas de tiro ao alvo e em uma infinidade de outros brinquedos. Apesar de ter sido algo infantil, mesmo assim foi muito divertido e engraçado. Ver a cara de Brian envergonhado e contrariado era o que mais me deixava de bom humor. Também tiramos diversas fotos, em momentos hilários, alegres e completamente constrangedores.

Foi uma noite muito divertida. Quando caminhávamos em direção ao último brinquedo, Brian parou em frente a uma barraquinha de algodão doce e disse:

-Quero dois algodões doces, por favor! -pediu ele ao vendedor. -Esse é o seu desejo número 1, certo? –perguntou, olhando para mim.

-Sim... Você se lembra...? –falei um pouco surpresa.

Brian entregou-me o algodão doce e eu, ao sentir aquela textura macia e cheiro adocicado, fui capaz de me recordar da única vez em que estive num parque de diversões. Naquela época, eu tinha apenas seis anos de idade, e meus pais me compraram um algodão doce, que eu comi de um modo desajeitado, acabei ficando toda lambuzada e levei um sermão de minha mãe. Aquela foi a melhor época da minha vida. Ao sentir o gosto daquele doce, meus olhos se encheram de lágrimas.

-Kate, você está bem? –perguntou Brian, com um olhar preocupado.

-Estou bem, não se preocupe! –respondi, enxugando rapidamente as lágrimas e voltando a sorrir.

Passeamos pelo parque e observamos as luzes e cores enquanto saboreávamos o algodão doce. Depois de brincarmos no último brinquedo (cama-elástica), Brian me levou até em casa.

-O que vamos fazer amanhã? –perguntou ele, enquanto estávamos em frente ao portão do condomínio de onde eu morava.

-Amanhã começaremos a visitar todos os pontos turísticos da cidade! –respondi, e Brian apenas assentiu com a cabeça.

-Finalmente um desejo que não é estranho nem louco... –falou ele, e suas palavras, como sempre, me deixaram irritada.

-Sabe, acho que já estou me acostumando com essa sua língua afiada! –falei com uma expressão emburrada no rosto, e Brian me encarou com um sorriso matreiro.

-Ah é? Então acho que preciso pensar em outro método de te deixar irritada! –disse ele, sorrindo.

-Hã? Então você faz isso de propósito? Ora! Seu... –resmunguei contrariada.

-Antes que você comece a me bater, eu já vou indo! Tchau! –disse, afastando-se do portão e acenando.

-Espera! Você não pode ir embora agora! –falei.

-Hã? Por quê? –perguntou ele, desconfiado.

-Entra! –falei, apontando na direção do portão do condomínio.

-Hã? Entrar?! No seu apartamento? –indagou ele, e sua expressão parecia muito surpresa e receosa.

-Sim! Preciso que você me ajude a fazer uma coisa!-respondi naturalmente, e Brian me encarou como se ele estivesse falando com alguém sem juízo.

-Erm... Não acho que seja uma boa ideia... Você é uma garota e mora sozinha... E eu... Sou um homem... Não quero me responsabilizar pelo que possa acontecer... –gaguejou ele, e parecia muito envergonhado e constrangido.

Olhei para ele com os olhos semicerrados e imaginei o que ele poderia estar pensando naquele momento, porém ignorei todos esses pensamentos pervertidos e apenas puxei a gola de sua camisa.

-Vem logo! – ordenei, e o arrastei para dentro do condomínio.

Atravessamos a portaria e entramos no elevador. Brian se mantinha estático e o mais distante possível de mim. Quando o elevador parou no quinto andar, Brian não queria sair, e tive que puxá-lo pela gola da camisa novamente.

-Eu sei que estes são seus últimos dias de vida, mas... Não vamos fazer nada de estranho, vamos? -perguntou ele nervoso, e eu apenas o ignorei, fingindo não ter ouvido sua pergunta.

Peguei a chave do apartamento na mochila e abri a porta. Logo avistamos a sala de estar. Era uma sala pequena e simples, com poucos móveis, apenas uma mesa de centro, uma estante e dois sofás. Porém, havia algo completamente incomum no meio da sala. Brian arregalou os olhos de tanta admiração.


Capítulo 13

-O que é isso? –perguntou ele, abismado, olhando para aquela coisa enorme do meio da sala.

-Um pinheiro, não está vendo? –respondi despreocupadamente.

-E... O que um pinheiro está fazendo no meio da sua sala? –perguntou ele, sem tirar os olhos daquela grande árvore.

-Não é óbvio? Ele será uma árvore de Natal! –falei, e Brian me encarou com aquela expressão atordoada de quem está falando com uma pessoa fora de sua sanidade mental.

-Hã? Mas ainda estamos em Abril! –replicou ele, e pôs as mãos na cabeça, já ficando zonzo de ter passado por tanta coisa estranha nesses últimos dias.

-E daí? Por acaso você esqueceu que só me restam três dias? Mesmo que eu quisesse, não poderia esperar para montar uma árvore de Natal em dezembro! –argumentei aborrecida.

-Então... Você quer montar uma árvore de Natal agora? – perguntou ele, e suspirou de exaustão.

-Isso mesmo! Sempre quis fazer isso, mas meus pais nunca me deixaram montar uma árvore de Natal, na verdade, eles sempre pediam para nossos empregados fazerem isso... –falei, enquanto rodeava o pinheiro e sentia a textura de sua folhagem.

-Você nunca montou uma árvore de Natal antes?

-Não... Essa será a primeira vez que eu vou montar uma árvore de Natal em toda a minha vida, por isso eu preciso da sua ajuda!

Brian me encarou com aquele olhar de pena.

-Tudo bem... –falou ele com uma expressão de derrota, e eu apenas dei uns pulinhos em comemoração.

-Então, por onde começamos? –perguntei animada, e Brian se espreguiçou, deixando o corpo mais leve para começar o trabalho.

-Deixe-me ver... Onde estão os enfeites natalinos? –perguntou ele.
-Estão ali no canto, dentro daquelas caixas! –falei, apontando para as caixas de papelão que se encontravam no canto da sala. –Não sei se eles serão suficientes...

-Hã? Mais são cinco caixas enormes! Como assim não serão suficientes? – grasnou Brian, que já estava quase enlouquecendo.

Retiramos alguns enfeites de dentro das caixas e começamos a enfeitar a árvore. Penduramos nos galhos muitas bolas vermelhas, douradas e prateadas. Enfeitamo-las com pinhas, sinos e laços. Também utilizamos diversas luzes coloridas, que piscavam de modo sincronizado ao som de uma linda música natalina. Muitos enfeites ainda sobraram dentro das caixas, e mesmo que eu quisesse usar todos eles, Brian me impediu, pois segundo ele, se utilizássemos mais enfeites do que deveríamos, a árvore ficaria exagerada e feia.

-Bom, agora só falta à estrela no topo da árvore! –falou Brian, e retirou uma estrela reluzente que estava dentro de uma embalagem colorida e a entregou em minhas mãos.

-Eu não alcanço o topo da árvore, então você pode colocá-la para mim... –falei.

-Eu? Mas é uma tradição o dono da casa pôr a estrela no topo da árvore! –disse ele.

-Mas eu já disse que não alc... –antes que eu pudesse terminar a frase, Brian me segurou pela cintura e me levantou para que eu pudesse alcançar o topo da árvore.

Fiquei um pouco assustada, mas logo me recuperei daquela sensação de estar nos braços dele e segurei firme nos ombros de Brian, e com uma das mãos, levei a estrela até o topo do pinheiro. Desta forma, finalmente a árvore de Natal estava completa.

-Ufa! Finalmente terminamos! –falei, olhando orgulhosa para a árvore de Natal reluzente.

-Fizemos um ótimo trabalho, não é? –comentou Brian, também observando a árvore com uma expressão de orgulho.
-Sim! –respondi sorrindo.

Descansamos esparramados no sofá enquanto tomávamos um refresco de limão. Brian estava exausto, e bocejava a cada cinco minutos.

-Esses são os seus pais? –perguntou ele, observando um porta-retratos que ficava na estante da sala.

-Isso mesmo... –falei um pouco desanimada.

-Você se parece com a sua mãe... –comentou ele com um pequeno sorriso, e logo em seguida bocejou novamente. -Tem certeza que não quer se despedir deles?

Abaixei a cabeça e suspirei entristecida.

-Bom, eu já tentei ligar para eles algumas vezes, mas sempre acabo desistindo antes de discar o último número... –respondi inconformada. -Está vendo esse pedaço de papel perto do porta-retratos? –perguntei, e Brian olhou curioso para o pedaço de papel. -Os números escritos nele são o telefone dos meus pais... Eu sempre deixo esse papel aqui, bem perto da foto deles, desta forma, sempre que eu olhar para esse porta-retratos sentirei vontade de ligar para eles... Eu quero ligar, mas... Tenho medo da reação deles...

Brian olhou para mim com aquela expressão de pena. Logo depois, ele passou alguns segundos observando o papel em cima da estante com uma expressão preocupada no rosto.

-É melhor eu ir andando... –falou ele, levantando-se do sofá e deixando o copo vazio em cima da mesa de centro.

Acompanhei-o até a porta e nos despedimos. Brian sorriu e acenou para mim antes de entrar no elevador.


Capítulo 14

Três dias. Só me restavam apenas três dias.

Brian e eu fomos visitar os principais pontos turísticos da cidade. E havia dezenas deles: Museus, onde pudemos observar grandes obras artísticas, como pinturas, desenhos e esculturas (Brian conhecia quase todas elas); teatros, onde assistimos maravilhosos musicais, peças e óperas; praças históricas, onde passeamos e até mesmo andamos de patins (Brian se desequilibrou e caiu diversas vezes, isso foi muito engraçado de se ver); centros culturais, onde tivemos a oportunidade de conhecer diversos grupos artísticos compostos por crianças e adultos, que cantavam lindamente e dançavam como profissionais; parques ecológicos lindos e cheios de animais silvestres, como macacos engraçados, micos-leões fofinhos, araras coloridas e tucanos mal-humorados (que tentavam nos bicar quando chegávamos perto deles). Brian tirou centenas de fotos, que somadas ás outras que foram tiradas nos dias anteriores, já eram mais de trezentas.

Gastamos dois dias para visitar todos esses lugares. E mesmo que tenham sido meus preciosos últimos dias de vida, valeu a pena passar todo esse tempo indo a lugares tão maravilhosos. Sim, valeu a pena cada segundo ao lado de Brian.

A tarde do penúltimo dia estava chegando ao fim. Brian e eu voltávamos para casa quando de repente pequenas gotas de água começaram a cair.

-Oh! É chuva! Não acredito! –exclamei animada, olhando para o céu e espalmando a mão para sentir as gotas de chuva caindo sobre ela. -Achei que não fosse chover nesses sete dias! Que bom!

-É melhor procurarmos um lugar para nos abrigarmos da chuva antes que ela fique mais forte! –disse Brian, olhando em todas as direções e procurando uma casa com alpendre, alguma lanchonete ou restaurante que pudéssemos entrar para pedir abrigo. –Ali! Uma parada de ônibus coberta! Vamos para lá!

Brian começou a andar em direção à parada de ônibus, porém, eu fiquei no mesmo lugar, estática, apenas apreciando a chuva cair sobre o meu corpo.

-Acha que eu vou perder essa oportunidade só pra não ficar molhada? É claro que não! –falei sorridente e corri para o meio da rua que estava praticamente vazia naquele horário.

-Hã? Espera aí! O que você vai fazer? – grasnou Brian, enquanto eu pulava e rodopiava de braços abertos no meio da rua. –Você ficou louca?

-Sim! Eu fiquei louca! TOTALMENTE LOUCA! –falei em voz alta, e algumas pessoas que passavam pela rua me olharam assustadas.

Continuei rodopiando de braços abertos, dançando, olhando para o céu e sentindo as gotas de chuva, cada vez mais intensas, caírem sobre o meu rosto.

Já não me restava muito tempo. A noite havia chegado e só haveria mais um dia pela frente. Enquanto pulava e dançava na chuva, extravasando tudo o que havia em meu coração, eu me sentia um pouco mais leve, porém, quando o pensamento de que a morte estava se aproximando aparecia em minha mente, tudo o que eu conseguia sentir era dor, um aperto no coração insuportável. Porém, de forma alguma eu iria desabar, pois havia prometido a mim mesma que viveria meus últimos dias intensamente, sem chorar ou sentir medo da morte. Brian me olhava de longe, meio constrangido por estar em companhia de uma louca que dança na chuva. Mesmo que ele se sentisse envergonhado naquele momento, Brian não me abandonou. Enquanto eu rodopiava e rodopiava, Brian permanecia lá, esperando-me na chuva, sem tirar os olhos de mim.

-Você vai pegar um resfriado se ficar muito tempo na chuva! –disse ele, que também já estava completamente molhado.

Alguns minutos depois, lá estávamos nós, sentados na parada de ônibus coberta, com as roupas e os cabelos encharcados de água da chuva, tremendo de frio.

-Você nunca me dá ouvidos! Vamos acabar os dois pegando um resfriado! –ralhou Brian com uma voz irritada e um pouco rouca.

-Desculpe... – falei num sussurro, estremeci e coloquei os braços em volta do corpo, tentando me aquecer.

A chuva continuava caindo, intensa e barulhenta, e o vento soprava forte, esfriando ainda mais o ambiente.

- Dê-me suas mãos... –ordenou Brian.

-Hã? –interroguei confusa.

-Suas mãos... Mostre-me suas mãos. –insistiu ele.

Estiquei meus braços na direção de Brian e ele segurou minhas mãos. Depois disso, abaixou um pouco a cabeça e soprou ar quente de seus pulmões para aquecê-las.

-Assim está melhor? –perguntou ele, e eu apenas assenti levemente com a cabeça.

Ficamos algum tempo sentados no banco da parada de ônibus. A chuva não cessava, pelo contrário, só ficava mais forte e não tínhamos como voltar para casa sem nos molharmos ainda mais. Todas as pessoas entraram em suas casas e até mesmo os automóveis não passavam mais por ali. Estávamos sozinhos.


Capítulo 15

Observávamos as gotas de chuva caírem sem cessar. Já estávamos sentados naquela parada de ônibus há mais de meia hora. Passamos algum tempo calados até que Brian resolveu quebrar o silêncio.

-Ainda não consigo acreditar que amanhã será meu último dia de trabalho como seu fotógrafo... - disse ele, com uma expressão melancólica no rosto.

-Você deveria estar comemorando! Depois de amanhã não vai mais precisar ficar me seguindo por todos os lugares! –falei normalmente, tentando esconder meu pesar, mas minhas palavras soaram falsas.

-Na verdade, eu... Eu gostaria de continuar com esse trabalho por mais um tempo... Só mais um pouco... –falou Brian, desviando seu olhar e suspirando logo depois.

-O que há de bom nesse trabalho? Tenho certeza que você vai ficar aliviado depois que tudo acabar, você não vai precisar mais ficar me aturando... –falei com um sorriso forçado no rosto, e Brian me olhou com uma expressão entristecida.

-Vou sentir sua falta... – disse ele num sussurro, como se estivesse disfarçando a emoção.

-Não vai não... –falei com uma voz embargada, evitando os olhos de Brian.

Ele apenas me encarou, e depois de um suspiro entristecido, abriu um sorriso sonhador no rosto e começou a falar:

-Quando eu tinha 15 anos, comecei a trabalhar como um fotógrafo pra valer. Naquela época, meu entusiasmo e expectativas eram tão altos que eu sentia como se pudesse ser o rei do mundo, uma pessoa capaz de realizar qualquer sonho, por mais difícil ou impossível que ele fosse. Porém, à medida que os anos foram se passando, todo aquele entusiasmo desapareceu, deixando apenas o senso de obrigação e o compromisso pelo trabalho. As pessoas me pagavam bem para tirar fotos e, apesar de serem fotos lindas, as quais eu deveria apreciar, meu único sentimento era “estou cumprindo meu dever” e “estou ganhando dinheiro para isso”. Quando nos vimos pela primeira vez, eu estava tirando fotos daquele jardim. Aquelas fotos seriam usadas para fazer um calendário, e meu único pensamento ao ver você naquele lugar foi: “Droga, ela está me impedindo de fazer meu trabalho e ganhar dinheiro!”. Que pensamento mais idiota, não é? Que tipo de fotógrafo eu sou? Eu sempre fui apaixonado pelas paisagens naturais, então porque eu só pensava em dinheiro naquele momento? Que tipo de fotógrafo não aprecia o seu próprio trabalho? Porém, depois que eu resolvi aceitar sua proposta, eu também estava disposto a jogar fora essa atitude “feia”... Eu aprendi muito com você nesses últimos dias. Percebi que existem coisas que merecem ser vistas e apreciadas, existem situações que merecem ser vividas... Não podemos simplesmente ignorar nosso coração e agir somente pela razão. Se fizermos isso estaremos desgastando nossa alma, tornando nossa existência como a de um objeto qualquer, que não possui sonhos verdadeiros, nem a capacidade de olhar para o céu e perceber que somos muito menores do que podemos imaginar. Apesar de o mundo ser grande e nós tão pequenos, ainda assim podemos fazer a diferença na vida de outras pessoas, e em nossas próprias vidas. Se nós não tivéssemos nos encontrado naquele jardim, eu nunca poderia ter tido a oportunidade de conhecer uma pessoa tão especial como você, nem ver o seu sorriso lindo enquanto brincava com aquelas crianças no espaço de recreação da lanchonete. Foi ali, naquele momento, que eu senti como se toda a minha vida tivesse valido a pena... Por que finalmente eu havia encontrado a única memória que eu queria levar para a eternidade, até mesmo para quando o dia da minha morte chegasse. Por que naquele momento, eu vi um anjo sorrindo, e um monte de anjinhos pequenos ao redor daquele maravilhoso anjo.

As palavras de Brian ecoaram na minha mente e pareciam estar quebrando todas as barreiras que meu coração havia construído para suportar a dor de estar perto da morte. Por que ele estava fazendo isso? Por que ele estava me fazendo fraquejar? Se eu ouvisse mais uma palavra gentil saindo de sua boca, meu mundo iria desabar e eu não conseguiria ir adiante. Só faltava um único dia para tudo acabar, e eu precisava aguentar tudo, evitar o medo e o desespero, me manter firme e sorridente, mesmo que só faltasse um minuto para a minha morte.

-Por que está dizendo tudo isso? É uma despedida? –perguntei de maneira rude.

Brian estranhou meu tom de voz e me encarou com uma expressão confusa.

-Não é uma despedida, ainda temos um dia... Quem sabe... Quem sabe até mais do que isso?

Soltei uma risada de deboche.

-Por que se iludir com falsas esperanças? Isso é burrice! –falei com um sorriso irônico no rosto, enquanto Brian me encarava com perplexidade.

-Kate, eu... Eu queria muito conseguir uma maneira de estender o nosso tempo juntos... Será que você não entende? Eu falei tudo isso por que eu quero que fiquemos juntos, por que eu te am...

-Por favor, não diga! Não diga mais nada! -interrompi, levando as mãos aos ouvidos.

-Mas eu preciso dizer! Eu preciso dizer o que eu estou sentindo nesse momento! –insistiu Brian.

-Brian! Isso não vai mudar absolutamente nada! Não vai fazer diferença nenhuma que você fale de seus sentimentos por mim! Depois de amanhã, tudo vai estar acabado! EU VOU MORRER! –falei em voz altiva, controlando o tremor em minhas mãos e sentindo um nó na garganta.

-Pode ser que aconteça um milagre! Pode ser que o destino nos conceda mais tempo! –insistiu ele.

-PARE! PARE DE SE ENGANAR! –gritei, e Brian me encarou assustado. –É melhor acabarmos com tudo isso antes que... Antes que tudo se torne um mar de tristeza...

-O quê? –perguntou ele, confuso.

-O nosso contrato acaba aqui! Não precisa mais vir amanhã! Apenas envie as fotos pelo correio e depois elas serão entregues aos meus pais! –falei secamente, e levantei-me do banco da parada de ônibus.

-V-Você está falando sério? - perguntou ele, ainda sem acreditar no que estava ouvindo.

-Adeus! –falei de forma rude, e saí andando rapidamente no meio da chuva.

-Não! Kate! Espera! –gritou Brian, e imediatamente correu atrás de mim, alcançando-me logo depois.

Brian segurou firme em meu braço, impedindo-me de fugir.

-O que você acha que está fazendo? Não pode ir embora desse jeito! Como... Como pode ser tão cruel? –disse ele, com a voz embargada.

Cruel? Ele que estava sendo cruel! Tentando-me com falsas esperanças. Vendo-o olhar para mim daquele jeito, como se estivesse prestes a perder a coisa mais importante de sua vida, não pude mais me segurar, todas as barreiras do meu coração já tinham sido derrubadas. As lágrimas começaram a cair desenfreadamente. E eram lavadas pelas gotas de chuva que também escorriam pelo meu rosto.

Chorei de forma descontrolada.

-Kate... –sussurrou Brian, e sua voz estava rouca, como a de alguém que está prestes a chorar.

-Acha que não está doendo em mim também? Acha que eu não preferiria viver e ficar ao seu lado? – falei com uma voz de choro, enquanto as lágrimas continuavam a cair.

Brian também estava com os olhos cheios de lágrimas.

-Então não fuja... Não se dê por vencida... –falou ele, e acariciou o meu rosto com a sua mão.

Brian se aproximou lentamente de mim, e seus olhos estavam cada vez mais perto, até que finalmente me beijou. A chuva continuava a cair incessantemente, porém, já não estávamos mais preocupados em ficar resfriados ou muito menos em quanto tempo ficaríamos ali parados no meio daquela rua fria, por que mesmo com o frio da chuva, nossos corpos estavam aquecidos, e nossas almas perdidas num beijo sem fim.


Capítulo 16

Último dia.

Eram 5 horas da manhã. Brian e eu estávamos na praia, observando o nascer do Sol. Deixamos nossos sapatos de lado e resolvemos caminhar descalços sobre aquela areia branca e macia, molhando os pés com água salgada. Perto dali havia um farol à beira-mar, e naquele momento sua luz ainda estava acesa, porém prestes a se apagar.

-Aquele farol tem mais sorte do que eu... Mesmo que sua luz se apague, à noite ela sempre volta a brilhar... –falei pensativa, sentindo os pequenos grãos de areia entre os dedos dos meus pés molhados.

Brian olhou para mim e segurou minha mão, entrelaçando nossos dedos enquanto andávamos lado a lado.

-Hoje será um belo dia ensolarado, por isso, não se preocupe com o que virá depois... –disse ele, inspirando a brisa agradável que vinha do mar.

Encarei Brian com um sorriso melancólico.

-Quando acordei essa manhã, senti uma forte dor no corpo... Fico pensando se isso significa que finalmente a toxina conseguiu penetrar nas minhas células... –falei entristecida, e Brian apertou de leve minha mão.

-Não vamos pensar nisso agora... Tenho uma surpresa para você! –disse ele, e sorriu.

-Surpresa? Que surpresa? –perguntei curiosa, esquecendo meus pensamentos mórbidos por um momento.

-Não posso te falar, afinal, se eu falar não será mais uma surpresa. –argumentou ele, e logo depois esticou o braço, apontando para o farol. –A única coisa que posso dizer é que a surpresa está lá!

-No farol? –perguntei, ainda mais curiosa.

-Isso mesmo! –respondeu ele com um sorriso matreiro.

-Então vamos lá, eu quero ver logo a surpresa! – falei animada, e Brian me segurou pelo braço antes que eu pudesse correr até o farol.

-Não podemos ir agora, a surpresa ainda não está lá! –disse ele.

-Hã? E quando é que ela vai estar? –perguntei decepcionada.

Brian espiou o relógio de sua câmera e respondeu:

-Sete horas... Vai estar lá às sete horas!

-O quê? Eu vou ter que esperar mais duas horas? Assim eu não vou aguentar de tanta curiosidade! –falei ansiosa e emburrada, cruzando os braços e olhando com curiosidade para o farol.

-Aguente firme! Enquanto isso, nós podemos tirar mais algumas fotos! –disse Brian, e logo ajeitou a lente de sua câmera.

Brian tirou diversas fotos, em algumas eu estava caminhando na praia, em outras estava correndo ou brincando na água. Resolvi roubar a câmera de Brian e arrisquei fotografa-lo também. Brian correu atrás de mim para conseguir a câmera de volta. Depois disso, tiramos algumas fotos os dois juntos. Depois fomos comer alguma coisa numa barraquinha que ficava em frente à praia.

Passadas duas horas, nós finalmente subimos até o topo da torre do farol.

-Wow! Aqui em cima é lindo! Que vista incrível! –falei maravilhada, observando a bela paisagem à minha frente.

O sol já estava brilhante no céu, e as nuvens brancas contrastavam com o azul anil que pintava o firmamento. Tudo isso se refletia no espelho do mar, que brilhava de um jeito mágico, trazendo uma brisa forte e refrescante.

-Essa é a surpresa? –perguntei.

-Não, ainda não. A surpresa chegará daqui a pouco. –disse Brian, e olhava um pouco preocupado para o relógio de sua câmera. –Eles já deveriam ter chegado...

-O que foi? Alguma coisa deu errado? –perguntei, e Brian disfarçou com um sorriso.

-Não... Está tudo bem, só precisamos esperar mais um pouco... –falou ele, suspirando logo depois.

Resolvi parar de me preocupar e continuei apreciando aquela bela paisagem. Porém, enquanto olhava para o céu azul e os pássaros que voavam longe dali, ouvi uma voz muito familiar.

-Kate... Filha...

Fiquei estática, sem acreditar que aquela poderia ser a voz de quem eu achava que era. Estava muito surpresa e com medo, por isso demorei a me virar para confirmar a identidade da dona da voz. Porém, quando me virei, meu coração acelerou e quase saiu do peito. Lá estavam eles, parados bem na minha frente, com os olhos banhados em lágrimas. Meus pais. Fiquei olhando para eles assustada, sem dizer uma palavra sequer, e minhas lágrimas começaram a cair também. Quando me viram chorando, eles correram em minha direção e me abraçaram forte, de um jeito diferente de todos os raros abraços que eu já havia recebido antes.

-Kate, por que não nos contou nada? Por que você sofreu sozinha? –perguntou minha mãe com uma voz de choro.

-Eu não queria que vocês ficassem preocupados comigo! Eu não queria que vocês sofressem também! –falei chorando.

-Filha, o que vamos fazer sem você? Como vamos viver sem você? –perguntou meu pai, e ele estava um pouco mais contido em suas lágrimas.

-Você é o nosso bem mais precioso! –disse minha mãe, e continuou me abraçando forte.

-Deve haver algum jeito de salvá-la! Tem de haver! –disse meu pai com uma expressão aflita no rosto.

-Talvez os médicos tenham cometido um erro! –falou minha mãe, tentando sorrir.

-Eles não cometeram um erro... Eu sei muito bem do que essa toxina é capaz... Sou uma bioquímica, esqueceram? – falei entristecida.

-Nós não aceitamos isso! –disse meu pai, e logo depois colocou as mãos na cabeça, mostrando-se desesperado.

-Por favor, senhor e senhora Stuart, aproveitem o tempo restante que vocês tem com sua filha!  -falou Brian, aproximando-se de nós.

Meu pai e minha mãe olharam para Brian com expressões confusas, mas logo se deram conta de quem ele era.

-Você deve ser o Brian? –perguntou meu pai.

-Sim, sou eu, prazer em conhecê-los! –respondeu Brian, recebendo um aperto de mão do meu pai.

-O prazer é nosso... –disse meu pai.

-Filha, foi esse rapaz que ligou para nós e explicou a sua situação... Viemos às pressas da Suíça quando ficamos sabendo que você iria... – falou minha mãe, e logo depois não conseguiu mais falar, pois as lágrimas inundavam seu rosto.

-Obrigado por ter nos avisado, seremos eternamente gratos! –continuou meu pai, encarando Brian com um olhar de gratidão.

Fiquei intrigada pelo fato de que Brian teria sido capaz de falar com eles.

-Brian, como você conseguiu contatá-los? –perguntei.

Brian estampou um pequeno sorriso no rosto.

-Sempre fui bom em decorar números de telefone! –respondeu ele, e eu imediatamente me lembrei do número de telefone que ficava perto do porta-retratos dos meus pais em minha casa.

-É melhor eu deixá-los a sós! Por favor, Kate, fique com seus pais, aproveitem o tempo que vocês ainda possuem juntos! – disse Brian, e pegou uma sacola que estava largada num canto da torre do farol.

-Tem certeza que não quer ficar com a gente? –perguntei, e Brian não respondeu, apenas tirou um envelope de dentro da sacola.

-Aqui... Eu trouxe esse envelope com algumas fotos que eu tirei... –falou ele enquanto me entregava às fotos. -Tem mais de 200 fotos aqui dentro... As outras restantes serão enviadas em breve aos seus pais! –completou ele. - Fique com a sua família agora!

Brian acenou e correu em direção às escadas.

-Brian! –chamei, porém ele já havia descido as escadas da torre e ido embora. -O que esse bobo pensa que está fazendo? –perguntei a mim mesma.


Capítulo 17

Brian caminhava pela rua, sozinho e suspirando, quando de repente recebeu uma mensagem de texto em seu celular:

Agora é você que está fugindo? Nem pense nisso, eu não vou deixar você fugir! (risada maligna).
Por favor, me encontre na praia do farol hoje à noite, ás nove horas. Não sei quanto horas de vida ainda vou ter, mas mesmo que meu corpo esteja debilitado, eu quero te ver pela última vez.
Com amor, Kate.

O fotógrafo sorriu tristemente, e passou vários minutos olhando para a tela de seu celular.

-Eu vou esperar... –disse ele, com os olhos brilhando.

Brian caminhou até chegar numa pequena loja, cuja vitrine estampava o nome “Wender’s Articles”. Era a loja de artigos para presente que pertencia ao seu irmão mais velho. Nos fundos da loja, havia um pequeno estúdio com câmara escura onde Brian revelava suas fotografias. Ele também trabalhava com fotos digitais, customização e edição de imagens.

Ao entrar em seu pequeno estúdio, Brian sentou-se em sua cadeira em frente ao computador e começou a observar as fotos que ele tinha arquivado. Entre as últimas, as quais ele havia tirado na praia, algumas haviam ficado com um pequeno defeito. Uma mancha escura em volta de mim.

-Kate, você vai ficar bem, não vai? –ele perguntou, como se naquele momento eu pudesse ouvi-lo. –Vai acontecer um milagre, eu sei que vai...

As horas se arrastaram até que finalmente o sol se pôs. Brian havia passado o dia inteiro com uma sensação estranha, um vazio dentro de si, perguntando-se a todo o momento se eu estava bem.
Os ponteiros do relógio marcavam nove horas da noite.

Brian saiu da loja correndo, com sua jaqueta e cabelos esvoaçantes. Sentiu um choque térmico por causa do frio da noite, mas não se importou, apenas continuou correndo, com o celular na mão, e na tela estava estampada à mensagem que eu enviei pela manhã, a qual ele já havia lido umas cem vezes naquele mesmo dia.

O fotógrafo finalmente chegou à praia, ofegante. Enquanto recuperava o fôlego, olhou em todas as direções. A praia parecia estar vazia e o farol brilhava intensamente, indicando o caminho certo a quem aparecesse por lá.

-Tudo bem, tudo bem... Ainda são nove horas, daqui a pouco ela estará aqui... –disse Brian a si mesmo, com uma voz trêmula.

Seu coração batia contra o peito, acelerado. O mar trazia uma brisa forte e gelada. O céu estava cheio de nuvens que cobriam a lua e a maior parte das estrelas visíveis.

Brian sentou-se na areia e descalçou os sapatos, sentindo a maciez daquele chão feito de minúsculos grãos.

-São tão pequenos... –disse ele, segurando alguns grãos de areia em sua mão. -Será que se um deles estiver prestes a ser levado pelo mar, alguém ou alguma coisa pode impedi-lo? Será que milagres realmente existem?

O fotógrafo riscou o chão com o dedo, desenhando um rosto.

-Já são nove e meia, ela está atrasada de novo! –falou ele, disfarçando sua preocupação com um sorriso. –Eu não deveria me preocupar... Ela vai aparecer!

Brian não aguentou ficar sem notícias e logo tirou o celular do bolso, discando imediatamente o número do meu telefone.

Este celular está desligado ou fora da área de cobertura. Deixe seu recado após o bip e sua mensagem será enviada ao correio de voz.

-Desligado? Que estranho, ela nunca deixa o celular desligado... –disse Brian, com uma expressão extremamente preocupada. -Tudo bem... Tenho que manter a calma, ela vai vir, ela vai vir... –repetiu ele, respirando fundo e tentando se acalmar.

O relógio do celular marcava dez horas da noite. Brian já estava suando frio, e seu corpo inteiro tremia. O fotógrafo já havia tentado ligar sete vezes, e o celular sempre estava desligado. Porém, ele não desistiu.

Onze horas. Brian enviou algumas mensagens, mas não obteve resposta.

Meia noite. Brian pensou em ir até minha casa, mas se eu estivesse com meus pais naquele momento, provavelmente seria perda de tempo ir até lá, e, além disso, poderíamos nos desencontrar.

Brian continuou esperando, e esperando, e esperando... Até que finalmente adormeceu.


Capítulo 18

O sol já estava surgindo no horizonte, e mesmo com o céu nublado, cheio de densas nuvens, os primeiros raios de luz fizeram com que Brian acordasse de seu sono solitário.

O fotógrafo estava sentado com a cabeça abaixada e apoiada nos joelhos. Seu pescoço estava doendo por ter dormido de maneira tão desconfortável.

Depois de um longo bocejo, Brian finalmente se deu conta de que já havia amanhecido. Ficou totalmente desnorteado. Seus olhos transpareciam uma grande confusão e tristeza.

-Droga... O sétimo dia já se foi, então isso quer dizer que... Ela não vai mais aparecer...? –disse ele com uma voz embargada, tentando convencer a si mesmo. –Não... Não pode ser, ela ainda está viva! Eu sei que está!

O rapaz permaneceu quieto por alguns minutos, tentando confortar a si mesmo e seguir adiante.

-Desde o começo, eu sabia que iria ser assim, afinal, ela só tinha sete dias de vida! –disse ele, controlando sua voz. –Eu tenho que seguir em frente! É melhor ir embora daqui! Acabou! Acabou!

Brian tentou se levantar, porém, suas pernas estavam tão fracas e trêmulas que ele apenas cambaleou e caiu de joelhos, apoiando-se com as mãos. Ficou parado nessa posição por alguns minutos.

Pingos começaram a cair sobre a areia. E não eram pingos de chuva, e sim as lágrimas de Brian. Lágrimas incessantes, que aos poucos, deixavam seus olhos vermelhos e inchados.

Seus soluços de choro ecoavam pela imensidão do mar a sua frente. Sentia falta de ar, e seu coração doía como se uma flecha o tivesse ferido.

-Toda essa cena é por minha causa? –minha voz soou em meio ao vazio e aos soluços de Brian.

Brian se virou rapidamente e, por um momento, parecia que estava vendo um fantasma.

-Kate? – disse ele, incrédulo, ainda com o rosto molhado de lágrimas.

-Desculpe o atraso, é que eu estav... –antes de continuar a explicação, Brian se levantou e correu em minha direção, abraçando-me tão forte que quase fiquei sem fôlego.

-Eu pensei... Eu pensei... –gaguejou ele, com uma voz trêmula e os olhos marejados de lágrimas.

Passamos alguns minutos abraçados, sentindo o calor e as batidas do coração um do outro, até que finalmente Brian resolveu me largar.

-O que aconteceu? E os sete dias? –perguntou Brian, ainda confuso, sem acreditar que eu estava bem a sua frente.

Respirei fundo e expliquei:

-Meus pais... Enquanto estavam de viagem, eles conheceram um médico muito prestigiado na Suíça, e quando eles falaram de mim para esse médico, o doutor disse que haveria uma grande probabilidade de que meu problema fosse resolvido com uma nova droga que ele estava desenvolvendo. Como ela ainda estava em fase de testes, só poderia ser usada em pacientes em estado terminal. Porém, meus pais insistiram até que finalmente conseguiram uma amostra dessa nova droga e a trouxeram junto com eles. Eu fui apenas uma cobaia, mas apesar de ser perigoso, aqui estou eu, me sentindo bem, e depois de fazer alguns exames ontem, foi comprovado que a toxina desapareceu do meu organismo completamente.

-Isso... Isso... É inacreditável! É maravilhoso! –disse Brian, com um largo sorriso estampado no rosto.

-Você tinha razão... Milagres podem acontecer! –falei animada, com lágrimas nos olhos. –Como eu fui boba! Eu, uma bioquímica, não deveria ter perdido as esperanças... Deveria ter pensado nessa possibilidade... Todos os dias novos fármacos são criados, eu deveria ter imaginado que um deles poderia simplesmente reverter os efeitos nocivos da toxina!

-O que importa é que você está viva! VIVA! –disse Brian, pulando de alegria, e eu comecei a rir.

-Brian...Obrigada! Se você não tivesse telefonado para os meus pais, eu não estaria viva agora, muito obrigada! Você me salvou! -falei, enquanto as lágrimas de felicidade continuavam a cair.

Brian olhou emocionado para mim e mais uma vez me abraçou,  logo depois rodopiou comigo em seus braços e me beijou. Nossa felicidade era imensa naquele momento, e tudo que queríamos era estar perto um do outro.

-Quer ser minha namorada? –perguntou ele, surpreendendo-me.

-Hã? Assim, tão de repente? –perguntei com um sorriso matreiro, fazendo-me de difícil.

-Achei que você gostasse de mim, mas pelo jeito... –disse ele, com uma cara emburrada, fingindo estar zangado.

-Tá bem, tá bem! Eu aceito, mas com uma condição! –falei com um olhar de criança travessa.

-Lá vamos nós de novo! –resmungou Brian. –Que condição? –perguntou ele, desconfiado.

-Você tem que aceitar a minha proposta! –falei, e Brian me encarou com uma expressão confusa no rosto.

Peguei minha mochila e tirei um envelope de dentro dela. Abri o envelope e entreguei o conteúdo nas mãos de Brian.

-O que é isso? –perguntou ele, intrigado.

-Veja você mesmo! –ordenei com um sorriso orgulhoso.

Brian observou atentamente os papéis que estavam em suas mãos. E quando por fim se deu conta, ficou surpreendido. Eram duas passagens de avião para Paris.

-P-Paris? –gaguejou ele.

-Isso mesmo! –confirmei. –E então? Você aceita minha proposta de irmos juntos a Paris?

-Eu... Eu... –Brian não conseguia falar de tão surpreso que estava. Por isso resolvi provocá-lo.

-Se você não quer... Tudo bem, eu convido outra pessoa... –falei com uma expressão de deboche, tirando as passagens das mãos dele e fingindo ir embora.

Brian ficou com uma cara de bobo, e quando me viu ao longe, correu atrás de mim, inconformado.

-Ei! Espera! Quando foi que eu disse que não queria ir? –grasnou ele. –Volta aqui! Volta aqui!

Ambos começamos a correr. Brian tentava me alcançar e pegar de volta as passagens de avião. Enquanto brincávamos na praia, as nuvens do céu se dispersavam, e o sol, mais uma vez, brilhava imponente.

Semanas depois, estávamos fazendo turismo em Paris e passeando pelos lugares mais românticos da face da Terra. E tudo o que fizemos (bom... não exatamente tudo) foi registrado em lindas fotos e principalmente em nossas memórias.


Os grãos de areia levados pelo mar ainda podem ser trazidos de volta...


Fim





Extras

Algumas curiosidades:


  • Os nomes Brian e Kate são apenas dois nomes comuns que eu dei aos personagens, não tive a intenção de fazer alusão à nenhum personagem com o mesmo nome;
  • Brian é três anos mais novo que Kate. (Kate tem 25 anos e Brian tem 22 anos);
  • Os nomes dos pais de Kate são Molly e Harry;
  • Escrever a fanfic foi bom, porém, melhor do que isso foi desenhar as três capas (rsrs);
  • Muitas “cenas” dessa fanfic foram inspiradas nos famosos “clichês de dramas asiáticos”. (Sou apaixonada por dramas coreanos, por isso, foi inevitável rsrs). Não são clichês ruins (se fossem, eu não teria inserido-os na minha fanfic rsrs);
  • Essa fanfic também foi inspirada no mangá Boku no Hatsukoi wo Kimi ni Sasagu;
  • Essa fanfic foi escrita com a intenção de que ela fosse um roteiro para mangá;
  • A paisagem da primeira capa da fanfic (praia e farol) é o mesmo lugar onde Brian e Kate estão no último capítulo.
  • Quando comecei a escrever a fanfic, já tinha em mente o final, porém acabei mudando de ideia e fiz um final completamente diferente do que eu havia imaginado anteriormente. (isso porque o primeiro final era trágico, mas eu não consegui levar essa ideia adiante por que me apeguei aos personagens e preferi dar um final feliz a eles.)

Lista de desejos de Kate (completa):

1 - Comer algodão doce
2 - Andar pela praia e molhar os pés com água do mar

3 - Ir ao parque de diversões e brincar em todos os brinquedos
4 - Fazer compras sem se preocupar com o limite do cartão de crédito
5 - Passear num jardim cheio de flores perfumadas
6 - brincar num balanço
7 - Subir num farol a beira mar
8 - desenhar ao ar livre, debaixo de uma árvore
9 - andar de patins
10 - comer pizza
11 - visitar um grande aquário
12 - ir a um parque aquático
13 - brincar com crianças
14 - montar uma árvore de natal
15 - usar uma linda maquiagem
16 - dançar uma valsa com um lindo vestido de princesa
17 - fazer um piquenique ao ar 
livre
18 - deitar na grama e olhar para o céu azul
19 - deitar na grama e olhar para o céu escuro e estrelado
20 - andar de bicicleta num lugar bonito e cheio de árvores
21 - visitar os principais pontos turísticos da cidade
22 - dançar na chuva

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Bom, pessoal, e para "fechar com chave de ouro", confiram a seguir a música-tema da fanfic:




Até mais!


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