sexta-feira, 19 de abril de 2013

Sete dias para viver - fanfic especial de aniversário

Annyeong haseyo!
Olá todo mundo! Como estão se sentindo hoje? Eu estou muito contente! Por que hoje o blog Coração Feroz completa um aninho de vida! Ebbbaaaaa! \o/\o/\o/\o/\o/\o/\o/\o/\o/

Vamos comemorar!




Quando eu criei este blog, tive receio que ele não durasse muito tempo, mas olha só, já estamos com um ano de vida! Ainda nem acredito! 

Bom, e como vocês devem ter lido no título dessa postagem, eu preparei algo muito especial em comemoração ao aniversário do blog. O presente é uma fanfic original chamada Sete dias para viver

Atualmente, estou lendo um mangá chamado Boku no Hatsukoi wo Kimi ni Sasagu, a temática dele me inspirou a fazer essa fanfic (lembrando que é uma fanfic ORIGINAL, ela NÃO é baseada nesse mangá, apenas me inspirei através dele).

Meu plano era terminar a fanfic até o dia de hoje e postar todos os capítulos aqui de uma única vez (pois os capítulos dela são curtos). Porém, infelizmente, o tempo que eu tinha disponível para escrevê-la não foi suficiente para que eu pudesse terminá-la. Por isso, estou postando hoje apenas os seis primeiros capítulos. O restante da fanfic eu postarei quando terminar de escrevê-la.

Bem, sem mais delongas, vamos ao que interessa! O presente de aniversário!
Espero que gostem! Logo abaixo, vocês verão a capa da fanfic que eu mesma fiz. 

Uma curiosidade: Essa fanfic foi escrita com a intenção de fazer um mangá baseado nela (ou seja, ela é um roteiro para mangá), porém, como eu ainda não tenho capacidade de fazer um mangá, então me contentarei apenas em escrever a fanfic rsrs

Gênero: Drama, romance, comédia
Classificação indicativa: livre


Sete dias para viver

Sete dias para viver


Capítulo 1

Eram nove horas da manhã do dia 19 de abril de 2013. O frescor da primavera entrava pela janela do consultório médico, trazendo consigo o aroma das flores, que desabrochavam dia após dia, proporcionando uma bela sensação de relaxamento. Eu, que estava sentada numa poltrona macia, de frente para o Dr. Collor, sentia-me anestesiada, desnorteada, completamente sem chão. Era como se eu não estivesse ali, ou talvez estivesse, só que fora do meu corpo. O médico, sentado atrás de sua mesa, encarava-me com uma expressão séria.

-Ontem, às cinco e meia da tarde, a senhorita Kate Stuart foi trazida numa ambulância para esse hospital, confere? –perguntou o Dr. James Collor, forçando a vista por trás de seus óculos pequenos, enquanto analisava meu prontuário.

-Sim... –confirmei, olhando distraída para a janela que estava à minha esquerda, e sem nenhum sentimento na voz.

Depois de pigarrear, ele continuou:

-Você sofreu um acidente de trabalho e inalou uma toxina muito perigosa, confere? –sua voz parecia mais séria a cada palavra, o que me fez voltar aos meus sentidos e virar o rosto para encará-lo.

-Sim, eu sou bioquímica e trabalho num laboratório de pesquisa onde desenvolvemos novos fármacos. Aconteceu um vazamento de resíduos tóxicos e eu acabei inalando uma substância venenosa. –respondi de forma natural, porém, aquela conversa estava me deixando com um mau pressentimento.

-Então você está ciente de que a substância que você inalou é letal para o ser humano? –ele prosseguiu com o interrogatório, e meu coração acelerava a cada segundo.

-Sim... Na verdade, eu achava que a essa altura eu já estaria morta, mas como milagre, eu estou bem... Estou bem, não estou? –minha voz falhou nesse momento, um nó havia se formado em minha garganta e o mau pressentimento aumentava.

-Senhorita Stuart, nós fizemos tudo que estava ao nosso alcance: limpeza das vias respiratórias, transfusão de sangue, hemodiálise... Porém, uma pequena quantidade da toxina ainda permanece em seu organismo...

Era impossível controlar minhas mãos, que tremiam desesperadamente e suavam frio. Tentei entrelaçar os dedos e apertá-los, mas o tremor insistia em continuar.

-E o que isso quer dizer? Vou ficar com alguma sequela? –perguntei, já com uma voz de choro.

-Senhorita Stuart, você como uma conhecedora da substância que inalou, sabe que mesmo em pequena quantidade, ela ainda é letal, não sabe?

-Mas eu me sinto perfeitamente bem!- insisti, engolindo o choro e sorrindo falsamente.

-É só questão de tempo até que a toxina atravesse as barreiras de suas células e comece a destruí-las... –falou o médico, e desta vez foi ele que entrelaçou os dedos parecendo apreensivo, ao mesmo tempo em que seus cotovelos se apoiavam sobre a mesa do consultório.

-NÃO! NÃO PODE SER! EU ESTOU BEM! EU ESTOU BEM! –falei em voz alta, tentando convencer não só o doutor, mas principalmente a mim mesma, pois minha confiança fraquejava naquele momento.

-Senhorita Stuart, se acalme, por favor! Você precisa ser forte! – ralhou Dr. Collor, e ao olhar para mim, sua expressão era de pena, algo que me deixou irritada e ao mesmo tempo completamente desolada.

-O doutor não entende? É a minha vida! O doutor está querendo dizer que a qualquer momento eu vou morrer? –perguntei, ainda não acreditando que aquilo era real.

-Em alguns dias... –ele respondeu secamente.

-Hã? Está falando sério? Como...? Quanto tempo... Quanto tempo eu tenho de vida? –perguntei com a voz trêmula e os olhos cheios de lágrimas.

Dr. Collor levou uma das mãos à cabeça, apertando alguns fios de cabelo entre seus dedos. Logo depois, respirou fundo e disse:

- No máximo sete dias...

Após essas quatro palavras, eu não pude ouvir mais nada. Tudo parecia girar ao meu redor. O mundo não tinha mais cor, as lágrimas inundavam meus olhos, escorriam pelo meu rosto e caíam sobre as minhas mãos trêmulas. Dr. Collor tentava me consolar, mas a única coisa que eu ainda podia sentir naquele momento era o frescor da primavera que entrava pela janela. Aquele maldito frescor da primavera, que trazia consigo o cheiro das flores que desabrochavam a cada dia.



Capítulo 2

Sete dias. Apenas sete dias de vida. Depois de chorar descontroladamente pela décima vez, inundando os lençóis da minha cama, fui capaz de me levantar e caminhar até o espelho da minha penteadeira. Encarei aquela pessoa que estava diante de mim. Uma jovem mulher de 25 anos de idade, cabelos longos e castanhos, olhos verdes e pele branca, que passou a vida inteira estudando e pensando nas conquistas do futuro. Uma cena surgiu em minha mente. Há três anos, quando meus pais foram à minha formatura, orgulhosos, eles gritaram aos quatro ventos que sua filha era a pessoa mais inteligente da família, e que ela tinha um grande futuro pela frente.

Que ironia do destino. Onde está o maldito futuro agora?

As lágrimas voltaram a brotar nos olhos daquela jovem mulher que se via diante do espelho.

Enquanto enxugava meu rosto com as costas da mão, percebi o quanto meus olhos estavam inchados e vermelhos, meus cabelos despenteados, e o meu rosto sem vida. Minha aparência era totalmente deplorável.

Foi então que resolvi perguntar para mim mesma:

-Você realmente vai passar os últimos dias que lhe restam de vida assim, deitada numa cama, chorando?

A maioria das pessoas mais velhas costuma dizer que o melhor da vida está na simplicidade, nas pequenas coisas que não têm muito valor material. Outras preferem admitir que o dinheiro compra tudo, até mesmo a felicidade. Talvez as duas tenham um pouco de razão. Para realizar todos os sonhos, uma pessoa precisa tanto de coisas que custam caro como coisas insignificantes e sem valor. Nosso destino é uma faca de dois gumes, e os nossos desejos também, pois a ambição é essencial para a evolução. Passei minha vida inteira estudando para conseguir um bom emprego e viver uma vida confortável, porém, tudo o que eu conseguia pensar naquele instante, a sete dias da minha morte, era que antes de morrer eu precisava sentir o gosto de algodão doce, ir ao parque de diversões mais próximo e ficar descalça na praia, molhando meus pés com a água do mar.

Por que essas coisas tão insignificantes são importantes para mim nesse momento? Será que eu enlouqueci? Ou apenas estou tentando fazer algo realmente prazeroso em minha vida antes que ela seja tirada de mim? Realmente não sei. Não tenho nenhuma resposta, só sei que é isso o que o meu coração pede, e pela primeira vez, estou escutando-o.

Abri a gaveta da penteadeira, peguei um pequeno bloco de papel e uma caneta. Comecei a escrever rapidamente:

Lista de desejos
1 - Comer algodão doce
2 - Andar pela praia e molhar os pés com água do mar
3 - Ir ao parque de diversões e brincar em todos os brinquedos
4 - Fazer compras sem se preocupar com o limite do cartão de crédito
...

A lista já estava grande o suficiente quando eu olhei para o relógio e percebi que já estava quase anoitecendo. Foi então que resolvi parar de escrever e começar os preparativos para o dia seguinte, o dia em que começaria minha grande aventura.



Capítulo 3

O despertador tocou às seis horas da manhã. Levantei da cama sem reclamar, tomei um bom banho e pus um vestido leve, com estampa florida e babados, o único vestido que eu tinha desse modelo, e que eu só havia usado uma única vez quando saí de férias da faculdade há três anos. Peguei a mochila que eu havia preparado no dia anterior e calcei uma sapatilha azul. Meus cabelos, que eram sempre mantidos presos num coque, desta vez resolvi deixá-los caídos sobre os ombros. Depois de tomar café da manhã, saí de casa rumo à minha jornada.

Caminhei pelas ruas observando cada detalhe da paisagem. As casas de diferentes cores e tamanhos, as lojas, os supermercados, as árvores e arbustos, os automóveis apressados, o céu azul e as nuvens brancas que formavam desenhos de todos os tipos. O vento soprava de maneira suave e acariciava meu rosto, e as pessoas andavam em todas as direções. Para onde será que elas estão indo? Pensei.

Finalmente cheguei ao meu destino. Tirei a lista do bolso e li:

5 - Passear num jardim cheio de flores perfumadas

Em minha frente lá estava ele, majestoso. Sempre que eu saía de casa rumo ao trabalho dirigindo meu carro, eu o via. E mesmo que nunca tivesse realmente prestado atenção nele, meu coração ansiava em um dia poder vê-lo de perto, sentir o cheiro das flores e caminhar entre elas. Certamente era um maravilhoso jardim.

Abri o portão que separava “o mundo real” daquele maravilhoso sonho e entrei. Era a primeira vez que eu entrava num jardim, e ao olhar para aquele lugar de perto, era muito mais bonito do que eu havia imaginado. Era como um mundo mágico e belo, bem diferente do trânsito, dos prédios e dos laboratórios que eu estava acostumada a ver.

Gardênias, margaridas, jasmins e copos de leite.  Rosas, girassóis, lírios e camélias. Ao passar por cada uma delas, fui sentindo seus perfumes, suas texturas e apreciando suas cores vivas. Tocar em suas pétalas e folhas era como se eu já tivesse morrido e ido para o céu.

Continuei caminhando lentamente por entre as flores, e parecia não haver mais ninguém naquele jardim além de mim. Porém, após algum tempo de caminhada, avistei alguém ao longe. Um rapaz. Ele era alto, tinha os cabelos negros e estava tirando fotos do jardim com uma câmera profissional. Mantinha-se completamente imerso no que fazia e por isso nem percebeu minha presença. Fui me aproximando dele sorrateiramente, porém, mesmo estando bem perto, ainda não podia ver seu rosto, pois a câmera ficava na altura de seus olhos.

-Pelo jeito como você maneja essa câmera profissional, deve ser fotógrafo, não é? –perguntei, e ele ficou bastante surpreso ao ouvir minha voz, levantando a cabeça imediatamente e encarando-me como se eu fosse uma intrusa.

-Quem é você? Por que está aqui? Esse jardim foi alugado por mim e deveria ficar vazio por uma hora até que eu terminasse de tirar as fotos! –ele respondeu de forma rude.

-Desculpe-me, eu não sabia... –respondi meio desconsertada, e ao mesmo tempo, um pouco fascinada pelos belos olhos azuis daquele rapaz. Ele era bonito, definitivamente muito bonito.

Uma atmosfera constrangedora pairava entre nós, e o fotógrafo permaneceu encarando-me com uma expressão irritada no rosto.
-Então, será que você pode ir embora para que eu possa continuar tirando minhas fotos em paz? –ele insistiu de maneira mal-educada.

-Não. –respondi secamente, apreciando toda aquela provocação.

-Hã? Não vai sair? Mas eu aluguei esse lugar! Ele me pertence por mais... –ele espiou as horas na câmera. –30 minutos!

Fitei seus olhos azuis por alguns segundos e depois respondi:

-Não me importa! Eu vou continuar aqui e, já que você também quer continuar tirando suas fotos, pode fazer isso, ninguém está lhe impedindo! Fique tranquilo, eu vou ficar longe da sua câmera!
Minhas palavras só fizeram aumentar a irritação dele.

-Você é louca? Eu já disse pra sair! Esse lugar é privado! SAIA! Volte daqui a 30 minutos!

Cruzei os braços, cravei os sapatos no chão e fiz careta, respondendo de forma segura:

-Não vou sair!

O rapaz encarou-me com fogo nos olhos e resmungou por algum tempo até que finalmente se deu por vencido. Ele se afastou de mim e voltou a tirar fotos do outro lado do jardim, onde havia muitas gardênias.

-Idiota! –resmunguei irritada.

Observando o quanto ele estava concentrado em seu trabalho e fazia tudo de forma muito dedicada e profissional, me veio na mente uma ideia maluca, uma ideia que certamente eu colocaria em prática, já que no meu caso, eu não tinha mais nada a perder.

Fui me aproximando do fotógrafo novamente, de forma que ele não percebesse minha presença, e isso não era difícil de se fazer, pois ele estava muito compenetrado em sua tarefa e parecia não se preocupar com nada em seu redor além das flores.

-Com licença... –falei, e ele simplesmente fingiu que não me ouvia.

Tentei ficar na frente da câmera e impedir que ele pudesse continuar tirando fotos das flores, porém, ele simplesmente ignorava-me e desviava-se de mim.

-Ei! Não pode me ignorar! Olhe para mim! –insisti, e a expressão dele já estava furiosa.

-Não foi você mesma que disse que não iria me atrapalhar? Por que está me impedindo de tirar fotos? Que irritante! –disse ele, com uma voz enérgica e cheia de raiva.

-Tenho uma proposta a lhe fazer... –respondi com um sorriso malandro no rosto, e ele me encarou com uma expressão confusa.
-Proposta? –ele perguntou, mostrando-se curioso.


Capítulo 4

O fotógrafo mantinha seus olhos arregalados e cravados em mim, boquiaberto, com uma expressão incrédula no rosto e a câmera pendurada em seu pescoço.

-Está falando sério? Sério mesmo? –ele perguntou.

-Sim, é por isso que antes de começar a cumprir todos os desejos que eu escrevi na minha lista, decidi que era necessário registrar os meus últimos dias de vida, pois desta forma, quando eu morresse, meus pais poderiam guardar uma boa lembrança de mim e, além disso, minha existência não seria esquecida.

O rapaz continuou me encarando por alguns segundos até que, de repente, soltou uma risada.

-HAHAHAHAHA! Não acredito que caí nessa! Por um momento eu até acreditei que fosse verdade! Como eu sou fácil de enganar! HAHAHAHAHAHA!

Tirei de dentro da minha mochila uma cópia do meu prontuário médico e mostrei para ele.

-Aqui, a prova de que eu não estou mentindo... -falei, enquanto estendia o papel em sua direção.

-O que é isso? –ele perguntou, observando o documento com curiosidade.

-Leia! –ordenei, já ficando sem paciência com toda aquela situação.

Enquanto ele lia meu prontuário, aos poucos o seu sorriso de deboche deu lugar a uma expressão séria e cheia de pena.

-Acidente de trabalho... Você inalou uma toxina letal... –disse ele com uma voz trêmula.

-Foi o que eu acabei de dizer a dois minutos atrás! Mas pelo visto, eu precisei mostrar essa porcaria de papel pra você acreditar em mim! - falei irritada, tirando o documento das mãos dele com brutalidade e guardando-o de volta em minha mochila.

-Desculpe... Sinto-me muito mal por ter rido de uma coisa tão séria... Perdoe-me, por favor... –ele abaixou a cabeça, parecendo abalado.

-Eu vou te perdoar, mas com uma condição...

-Condição? Que condição? –ele levantou a cabeça, voltando a olhar para mim com sua expressão de curiosidade.

-Você tem que aceitar a minha proposta! –respondi, com um olhar de chantagista.

-Então você quer que eu acompanhe você e tire fotos suas enquanto você cumpre seus desejos antes de morrer?

-Isso mesmo! –respondi sorridente. –Eu pago bem! –completei.

Os dados foram lançados. Só resta saber se o número da sorte estará ao meu lado.

Depois de pensar por alguns minutos, coçar a cabeça e pôr a mão no queixo, o fotógrafo resolveu aceitar minha proposta, pois segundo ele, negar o pedido de uma pessoa que só tinha sete dias de vida poderia lhe render sete anos de azar.

-A propósito, qual é o seu nome? –perguntei, dando-me conta de que depois de toda aquela discussão, eu ainda nem sabia o nome dele.

-Brian... Brian Wenders. –disse ele, estendendo sua mão. –E o seu?

-Kate Stuart, muito prazer. –respondi, dando-lhe um aperto de mão e olhando no fundo de seus olhos azuis. Por algum motivo, ele sorriu, e o seu sorriso foi capaz de me contagiar, fazendo-me sorrir também.

Os dados foram lançados. Só resta saber se o número da sorte estará ao meu lado. Pelo visto, esses últimos sete dias serão muito mais interessantes do que eu possa imaginar.


Capítulo 5

Caminhávamos lado a lado, sempre a passos iguais. Ele olhava para mim o tempo todo, porém, toda vez que eu o encarava de volta, ele virava o rosto, como se fugisse do encontro de nossos olhos. Tirei a lista da mochila para decidir qual seria o próximo desejo a ser cumprido.

-Tem alguma venda de algodão doce por aqui? –perguntei, enquanto lia os desejos da lista.

-Hã? Algodão doce? Acho que não, por quê? –ele perguntou, e esticou o pescoço para espiar o papel que eu estava segurando.

-Nada... –respondi de maneira vaga, sem prestar atenção na reação dele. Porém, tomei um susto quando ele se aproximou de mim e roubou a lista de minhas mãos.

-Essa é a tal lista de desejos? O que têm aqui? –disse ele, enquanto começava a ler o que havia escrito no papel.

-Ei! Devolva! Não pode ler! –falei exaltada, tentando pegar a lista de volta, mas sem sucesso, pois Brian era muito mais alto e mais forte do que eu. –Devolva-me! É minha!

-Qual o problema em lê-la? Eu vou ficar sabendo de tudo quando tirar as fotos! –argumentou ele, enquanto mantinha a lista bem acima de sua cabeça para que eu não fosse capaz de alcança-la.

-Eu não quero que você leia! Devolva essa lista agora! –grasnei aborrecida.

Enquanto eu lutava para reaver minha lista, Brian continuava lendo-a.

-Comer algodão doce? Ir ao parque de diversões e brincar em todos os brinquedos? Dançar uma valsa com um lindo vestido de princesa?– perguntou ele, contendo-se para não rir.

-Ah! Isso é vergonhoso! Pare de rir! – falei constrangida.

-Dançar na chuva? Que tipos de desejos infantis são esses? –ele continuou, e desta vez, começou a gargalhar.

Num movimento repentino e brusco, arranquei a lista da mão de Brian, e ele pareceu perplexo com minha agressividade.

-Pare! Pare de rir! Você não entende! Eu passei minha infância inteira estudando, sou filha única e meus pais nunca me deixaram sair com meus amigos! Eles nunca me deixaram fazer nada além de estudar! –respondi com a voz trêmula e os olhos marejados de lágrimas.

Brian olhou para mim com uma expressão de pena.

-Sério que você não teve infância? Isso é deprimente... Sinto muito por rir dos seus desejos, prometo que não farei mais isso... Desculpe.

-Tudo bem... –respondi ainda constrangida.

Caminhamos por mais alguns minutos em silêncio, até que eu avistei um Shopping.

-Podemos entrar ali e cumprir meu desejo número 4? –perguntei, entusiasmada.

-E o que é exatamente esse desejo?- replicou Brian, com um mau pressentimento.

-Espere e verá! –falei com um sorriso malandro.

Ao entrar naquele lugar fortemente iluminado, com o piso brilhante e rodeado de lojas de todos os tipos, minha mente deu voltas de tanta empolgação. Era o momento de fazer o que quase todas as mulheres amam: Compras!

Corri em direção à primeira loja que vi, e lá tinham muitos vestidos, bolsas e sapatos.

-Aqui é o paraíso! –falei com uma voz cheia de entusiasmo.

-Ah não, compras não! –resmungou Brian.

As reclamações de Brian pararam no mesmo instante em que eu experimentei o primeiro vestido. Por algum motivo, logo ele se empolgou com a “brincadeira” e, enquanto eu experimentava todas as roupas e sapatos da loja, ele também opinava sobre meu visual, tirava fotos e me observava da cabeça aos pés, sempre sorrindo e sendo bastante sincero ao dizer quais roupas ficavam melhores em mim. Desde quando uma pessoa mal-educada como ele se tornou um rapaz tão cavalheiro? Isso me deixou um pouco cismada, porém, não havia tempo para pensar nessas coisas.

Depois de passar mais de quatro horas na loja e comprar dezenas de sapatos, vestidos, blusas, calças e saias, além de algumas joias, maquiagem e outras coisas inúteis, finalmente saímos do Shopping carregando inúmeras sacolas.

-Não vamos passar o dia todo carregando essas coisas, vamos? –perguntou Brian, tentando equilibrar-se no meio de tantas sacolas.

-Não se preocupe, eu já chamei o serviço de entrega, eles devem estar chegando a qualquer momento e irão deixar tudo isso na portaria do condomínio onde eu moro. –respondi, ao mesmo tempo em que derrubava cinco sacolas no chão. –Oh Droga! –reclamei.

-O que vai fazer com todas essas roupas? Quer dizer, você só tem sete dias...

-Eu sei... Quando eu morrer, provavelmente todas elas serão devolvidas.

Depois que o serviço de entrega chegou, Brian e eu continuamos nossa caminhada.

-Já é quase meio dia, então... Devemos ir comer alguma coisa? –disse Brian.

-Claro... Que tal pizza? –perguntei, com aquele sorriso malandro no rosto.

-Pizza? Tem certeza? – perguntou Brian.

-Esse é meu desejo número 10! –respondi.

-Sério? Ainda estou tentando me acostumar com esses seus desejos esquisitos. –disse ele. -Mas... Não tem nenhuma pizzaria perto daqui!

-Não se preocupe, eu dou um jeito nisso! –falei, enquanto caminhava para fora da calçada e esticava o braço. –Táxi! –chamei, e logo um carro parou em minha frente.

-Ei!Espere por mim! –gritou Brian, e logo correu em direção ao táxi, entrando nele em seguida. –Aonde vamos? –perguntou ele, cismado.

-Eu sei de um ótimo lugar onde podemos comer pizza! E ele sempre está aberto ao meio dia!

-Lá vamos nós de novo! –resmungou o fotógrafo, soltando um suspiro.


Capítulo 6

-É esse o lugar? – perguntou Brian, com uma expressão enojada no rosto.

Estávamos em uma lanchonete infantil, onde diversas crianças costumavam frequentar, e nela havia um grande espaço para recreação, cheio de palhaços e brinquedos.

-Ah não, eu não vou entrar aí, está cheio de crianças! –disse Brian, enquanto já se preparava para fugir.

-É claro que vai! Volte aqui! –falei, segurando a gola da camisa dele, impedindo-o de correr de volta para o táxi.

Dez minutos depois, lá estávamos nós, sentados à mesa e rodeados por crianças, todos comendo pizza e se lambuzando, exceto Brian, que estava de cara feia.

-Hum... Não vai comer? –perguntei, enquanto lambia os dedos das mãos, que estavam sujos de molho de carne e ketchup. Brian apenas virou o rosto na direção oposta, ignorando-me. –Não sabe o que tá perdendo! –resmunguei.

- Olha, eu já tirei todas as fotos que você me pediu, podemos ir embora? –disse ele, zangado.

-Espere aqui, eu vou brincar um pouco com as crianças na sala de recreação! –falei apressada, e logo me levantei da cadeira, sendo levada pelas crianças, que seguravam firmemente minhas mãos.

-Ei! Não! Espere! Por que vai fazer isso? Vamos embora logo! –grasnou Brian, de forma impaciente.

-Esse é meu desejo número treze! –respondi, enquanto atravessava a lanchonete rumo à sala de recreação, de mãos dadas com as crianças.

-Como? Quem no mundo deseja brincar com um monte de pirralhos numa lanchonete? Aishh! –resmungou Brian, enquanto me via adentrando a sala de recreação.

As crianças disputavam minha atenção. Enquanto os garotos queriam que eu jogasse futebol com eles, as garotas queriam que eu brincasse de casinha. No fim das contas, acabamos desistindo dessas brincadeiras e começamos a pular e dançar todos juntos. O sorriso delas me contagiava, pois aquela pureza em seus rostos presenteava-me com uma alegria inexplicável, que se refletia em forma de risada, pulos, caretas e rodopios.

Brian, por curiosidade ou por medo de ficar sozinho em companhia de tantas crianças na entrada da lanchonete, resolveu ir atrás de mim. Ao se aproximar da porta da sala de recreação, era fácil identificar uma mulher adulta entre os meninos e meninas. Ele não entrou, apenas ficou observando de longe, e por um breve momento, pude ver um sorriso sincero esboçado em sua face. Um sorriso diferente de todos os que eu já tinha visto antes. Brian parecia feliz ao me observar, ou talvez ele estivesse apenas zombando de mim, rindo do meu jeito bobo, de minhas atitudes infantis. Mas... Aquele sorriso era tão puro, e seus olhos brilhavam de um jeito encantador. Quando percebeu que meus olhos também o observavam, ele se escondeu atrás da porta.

-O que está fazendo escondido aí? –falei em voz alta. –Esqueceu-se do seu trabalho? Precisa vir aqui e tirar fotos! Venha logo! Não fique se escondendo!

Brian esgueirou sua cabeça para fora de seu esconderijo e olhou para mim de um jeito constrangido. Logo depois, voltou a fazer aquela expressão enojada para as crianças e se aproximou, levantando a câmera na atura dos olhos e tirando diversas fotos.

Já eram quase duas horas da tarde quando saímos daquela lanchonete.  Brian espreguiçava-se e parecia muito cansado.

-Tem certeza que pode fazer isso? –perguntei, encarando-o com uma expressão preocupada.

-Foi isso o que combinamos, não foi? Eu irei acompanhá-la nesses sete dias, e mesmo que seja cansativo, não vou reclamar, afinal, você está me pagando para tirar as fotos... –ele respondeu, tentando me tranquilizar.

-E os seus outros compromissos durante a semana?

-Eu cancelei todos! –respondeu Brian, de forma segura. – Agora, me diz uma coisa: Como você consegue pular e dançar por tanto tempo sem ficar cansada? Se fosse eu, estaria morto agora!

-Mas... Eu também estou cansada...

-Sério? Pois não parece! –retrucou ele de forma irônica.

Encarei Brian e mostrei-lhe um sorriso melancólico, respondendo:

-Acha mesmo que uma pessoa que só tem sete dias de vida se preocuparia com o próprio cansaço? Você acha que eu deixaria de aproveitar cada minuto que tenho só por que estou cansada?

Brian me encarou de volta, surpreendido.

-Tem razão, desculpe-me, às vezes eu esqueço que você vai... –disse ele, e não completou a frase, apenas desviou o olhar, que parecia cheio de pena.

-Tudo bem... É melhor descansar um pouco!

-Hã? Mas você acabou de dizer que...

-Estou indo para casa agora – falei, enquanto abria o bolso da mochila, retirando um pequeno pedaço de papel. –Nos encontramos daqui a quatro horas nesse endereço! –completei, entregando o papel a ele.

 -Hã? Salão Fest Club? Que lugar é esse? –perguntou Brian, lendo o que estava escrito no papel. –E, além do mais, quatro horas de descanso não é muito tempo? Você mesma disse que queria aproveitar cada minuto...

-Quem disse que eu vou descansar durante essas quatro horas?

-Mas... Eu pensei...

-Vá para casa e descanse um pouco, eu cuidarei dos preparativos... –falei de um jeito misterioso. -E não se esqueça de me encontrar as seis em ponto no Salão Fest Club... Ah! E mais uma coisa, vá de terno e sapatos sociais!

-Terno? Sapatos sociais? –perguntou Brian, confuso.

-E dê um jeito nesses cabelos! –completei.

-O que tem de errado com os meus cabelos? –perguntou Brian irritado, colocando as mãos sobre a cabeça.

Ignorei suas perguntas e novamente estiquei o braço para chamar um táxi. Rapidamente um automóvel parou em minha frente.

–Ei! Espera aí! Ei, me explica isso direito! Por que eu tenho que ir de terno? –grasnou ele, enquanto observava-me entrar apressada no táxi. -Droga! Desse jeito sou eu que vou acabar morrendo nesses sete dias!

O táxi já estava longe quando Brian finalmente parou de resmungar, e depois disso, ele resolveu tomar o caminho de casa, andando lentamente com as mãos nos bolsos, soltando suspiros, com o vento batendo em seu rosto e os cabelos esvoaçantes.






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