sábado, 21 de julho de 2012

A parede de cristal (Capítulo 6)

Oi pessoal, desculpem a demora, realmente fui um pouco descuidada nesses dias (traduzindo: tive preguiça), mas finalmente o sexto capítulo de A parede de cristal está pronto, espero que gostem!



Capítulo 6 – Setor 048


Três setores foram desestruturados para que o novo setor, 048, também chamado de OEB (organismos extraterrestres de Babylon) fosse instalado. Não havia nada de diferente em sua aparência externa, só uma porta de entrada mais larga onde estava escrito “048-OEB” em letras douradas. Porém, sua estrutura interna era bem mais estranha e peculiar. Muitas máquinas, microscópios gigantes, computadores do tamanho de um armário e da espessura de um espelho, tomavam a maior parte do laboratório. Seis tubos transparentes ocupavam os lugares mais afastados no canto da sala, tinham quase 3 metros de altura, 1.5 metro de diâmetro e eram completamente vedados, apenas com aberturas que se ligavam a cabos de larga espessura. O laboratório era dividido em cinco alas, cada uma destinada às equipes selecionadas para fazer parte do novo setor unificado. Junto à equipe de David, estaria a equipe de testes de sobrevivência, a equipe especializada em desenvolvimento de novas drogas e medicamentos, a equipe de investigação do comportamento humano e extraterrestre, e a equipe de segurança planetária.

David, Erin e Joanna ainda estavam no laboratório 513 se aprontando para a mudança. Joanna continuava furiosa. Retirava seus pertences da sua “nova antiga” mesa de trabalho e sua raiva era tanta que acabou derrubando seus documentos no chão. Erin tentou ajudá-la, porém a garota simplesmente o empurrou e soltou um berro “Não preciso de sua ajuda!”. David também tentou se aproximar e lhe dar uma mão, felizmente a garota não gritou com ele e mesmo de má vontade, acabou aceitando sua ajuda.  Erin ficou com uma cara emburrada ao perceber que Joanna estava furiosa principalmente com ele.

Os três terminaram de encaixotar suas coisas e os funcionários do almoxarifado levaram tudo em um carrinho móvel para o novo setor. A sala ficou vazia, exceto pelos cientistas dentro dela.

-Faz pouco mais de um ano que estamos em Smart City, quase um ano trabalhando nessa sala, mas, na verdade, parece muito mais tempo do que isso... Esse lugar se tornou o meu lar, é como se eu vivesse aqui há anos!- discursou David, olhando para o espaço vazio deixado em seu laboratório, que antes era ocupado por três mesas, quatro armários e um enorme balcão.

-Esse lugar nos trás muitas lembranças... Lembra-se de quando entramos aqui pela primeira vez?-perguntou Erin, esticando os braços. -Estava tudo desarrumado e fazia uns três anos que ninguém ocupava esse espaço! Isso porque sendo o último laboratório, distante dos dormitórios e principalmente do refeitório central, ninguém queria ficar com ele, nem comer no refeitório secundário!

-Tem razão, naquela época o refeitório secundário estava sendo reformado e nós não podíamos perder tempo caminhando até o refeitório principal, tínhamos que comer com todo aquele barulho e poeira!- completou David, com uma expressão nostálgica no rosto.

-É difícil acreditar que só um ano se passou, parece que aqui, em Smart City, o tempo passa mais devagar... -disse Erin com um sorriso abobalhado, suspirando.

-Acho que é a gente que perde a noção do tempo estando aqui em baixo. –sussurrou David, tentando esconder sua voz trêmula e emocionada.

Joanna observava com um olhar sereno os dois rapazes parados no meio da sala vazia. Os dois conversavam emocionados, falavam das confusões em que se meteram nos primeiros dias de trabalho, riam de seus próprios erros, olhavam para os cantos e para o teto do laboratório, como se enxergassem neles cada acontecimento dos últimos 13 meses.

-Vamos, David, é hora de ir... –falou Erin, um pouco triste, passando pela soleira da porta, acompanhado por Joanna.

-Sim. –respondeu David, suspirando e dando uma última olhada em seu antigo laboratório. Logo em seguida saiu e fechou a porta.

Os três cientistas caminhavam em direção ao seu novo setor. Joanna não parecia tão furiosa quanto antes, porém andava um pouco mais afastada dos rapazes. Mostrava-se incomodada com algo.

-Hum... Vocês são amigos há muito tempo?-perguntou a garota, meio tímida.

Os rapazes olharam para a jovem, surpreendidos, pois até aquele momento, Joanna não tinha perguntado nada que não fosse relacionado ao trabalho. Passaram-se alguns segundos até se darem conta de que não haviam respondido a sua pergunta. David resolveu tomar a iniciativa, já que Erin permanecia calado.

-Sim, nós nos conhecemos na faculdade, estudávamos na mesma turma... -respondeu David, enquanto Erin os observava meio cismado.

-E os dois conseguiram entrar em Smart City ao mesmo tempo? Que incrível!-falou Joanna, olhando admirada para os rapazes.

Erin olha para Joanna e finalmente resolve falar, gaguejando por causa do nervosismo:

-S-Sim, quando eu soube que David tinha o sonho de trabalhar em Smart City, assim como eu, fiquei muito contente e tentei fazer amizade com ele, nós tínhamos muitas coisas em comum e por isso rapidamente ficamos amigos, depois disso, prometemos um ao outro que iríamos entrar juntos! -disse ele, meio tímido e atrapalhado, evitando os olhares de Joanna.

A garota ficou parada, encarando Erin. Depois, começou a rir, com um sorriso malicioso. O rapaz arregalou os olhos sem entender nada.

-Isso é tão... Gay! -disse ela, tentando controlar o riso e ficando vermelha.

-HÃ? MAS... MAS... EU NÃO SOU GAY! -praguejou Erin indignado, enquanto Joanna soltava umas risadinhas e apressava o passo, deixando os rapazes para trás. –EI! ESPERA AÍ! EU NÃO SOU GAY!

-Parece que ela gosta de você! -falou David, quase gargalhando.

-Pare de zombar de mim! –exclamou Erin, furioso. –Ela me odeia!

-Foi você que começou, falando mal do irmão dela, esqueceu? -disse David, tentando ao máximo conter o riso, enquanto Erin sussurrava nomes feios.

Finalmente os jovens cientistas chegaram ao setor 048. Observavam admirados o interior do gigante laboratório. Um dos cientistas responsável pelos testes de sobrevivência acompanhou os três como se fossem turistas e mostrou-lhes cada ala, explicando suas funcionalidades.

-Acho que não conheço você... -falou o cientista, referindo-se a Joanna.

-Ah! Peço desculpas, eu não me apresentei! Sou Joanna Lidberg, a nova integrante da equipe de estudos de organismos multicelulares extraterrestres!-a garota apertou a mão do cientista e ele sorriu docemente.

-Muito prazer, eu me chamo Steven, e se me permite um elogio, devo dizer que você é muito bonita!-falou o cientista de 30 anos, cabelos claros e olhos azuis. –Talvez você ainda não saiba, mas eu acabei de ser nomeado chefe do setor 048...

-HÃ? Você é o chefe do setor? Tão jovem?!-interrompeu Erin, que não parava de olhar para a mão de Joanna que segurava a mão de Steven.

-Não acho que eu seja tão jovem assim, e além do mais, quando se é competente, não existe idade para assumir um cargo importante! -respondeu Steven, soltando a mão de Joanna e encarando Erin com um olhar ameaçador.

-Eu não gosto desse cara... -sussurrou Erin para David.

-Bom, de qualquer forma, parece que ele também não gostou de você. -sussurrou David para Erin.

Steven mostrou todas as instalações, inclusive a ala da equipe de David. A ala era bastante ampla, três mesas de trabalho e armários embutidos nas paredes, além disso, tinha aparelhagem nova para ajudar nas pesquisas. As caixas onde se encontravam as coisas do laboratório antigo estavam encostadas no canto da parede.

-Vocês irão ficar aqui, percebam que todas as alas são abertas, assim poderemos nos comunicar mais facilmente e não teremos problemas caso alguém queira fazer o que não deve... -disse Steven, com uma voz autoritária e logo depois um sorriso radiante voltado para Joanna.

-O que você quer dizer com “fazer o que não deve”?-perguntou David, sentindo-se desconfortável naquele lugar.

-Apenas precauções... -respondeu Steven com um olhar distante. –Bom, fiquem a vontade para arrumar suas coisas e se instalarem definitivamente aqui.

Steven se retirou da sala. David começou a desencaixotar suas coisas. Erin e Joanna resolvem acompanhá-lo e fazer o mesmo. Enquanto arrumava seus pertences, começando pelo pequeno microscópio que foi um presente de seu pai, David avistou no canto do laboratório, fora das alas, os tubos gigantes. David passou algum tempo parado, olhando admirado para os tubos, como se eles fossem lhe dizer algo. Seu coração começou a bater mais forte.

-Steven não nos disse o que era aquilo... -falou David, com o olhar fixo nos tubos e apontando para eles.

-Hã? Aquilo o quê? -perguntou Erin, curioso, virando sua cabeça para o lado.

David pede para que o rapaz se aproxime e olhe para o canto direito do enorme laboratório. Erin finalmente avista os tubos. Joanna acaba se aproximando para ver também.

-Nossa, que estranho! -exclamou Erin. –Vamos ver de perto!

Erin caminhou rapidamente em direção aos tubos, e Joanna o acompanhou curiosa. David ainda ficou parado por mais alguns instantes, porém, depois de se dar conta que Erin e Joanna já estavam longe, o rapaz correu para acompanhá-los. A distância entre a ala da equipe e os tubos gigantes era de aproximadamente 70 metros.

-Caramba! De perto eles ainda são bem mais assustadores! –disse Erin, olhando fascinado para os gigantes transparentes.

Joanna se aproximou mais e mais até ficar bem perto e tocar um dos tubos.

-São lisos e frios... Do que será que são feitos?-perguntou ela, acariciando a superfície dos tubos. – Parece até... Cristal...

-Não sei... O que acha, David? -perguntou Erin. - David? DAVID!

David estava assustado, como se tivesse acabado de ver algo terrível e entrado em estado de choque. Sua expressão era de horror, seus olhos estavam saltados e se mantinham fixos nos grandes tubos. Seu corpo estava rígido como pedra.

-DAVID, O QUE ACONTECEU, VOCÊ ESTÁ BEM? DAVID? -perguntou Erin, nervoso, empurrando e puxando o amigo para frente e para trás. David permanecia em silêncio e estático.

Ao olhar para o rosto de David, Joanna também ficou amedrontada.

-O que ele tem, Erin? -perguntou a garota, dando um passo para trás inconscientemente.

-Eu não sei... DAVID, FALA COMIGO!-gritou Erin, desesperado.

David sentiu seu corpo todo tremer, seu coração batia tão rápido que parecia que iria sair pela boca. Começou a ter vertigens. Sua visão foi ficando embaçada e as coisas giravam como num carrossel. O nó na garganta o acometeu mais uma vez. Um suor frio emanou de sua pele e David perdeu as forças até desmaiar. Erin segurou o amigo no chão.

-O QUE ESTÁ ACONTECENDO, ELE ESTÁ MORTO? –perguntou Joanna, desesperada, aproximando-se do corpo.

-Não, ainda tem pulso... -disse Erin, segurando o antebraço de David e tentando reanimar seu amigo. -Vamos lá, David, acorda, por favor!

O rapaz permaneceu caído no chão. Ao redor dele, estavam Joanna e Erin. Depois de alguns minutos, alguns funcionários chegaram para ajudar e David foi levado numa maca para o setor hospitalar de Smart City.

Na ala hospitalar, precisamente na sala de espera, sentados numa poltrona amarela e em silêncio, Joanna e Erin sentiam-se desconfortáveis. Os dois cientistas esperavam ansiosos por alguma notícia.

-Ele está lá há mais de uma hora, será que ele tem alguma doença grave?-perguntou Joanna, observando Erin se levantar e andar de um lado para outro.

-Vamos pensar positivo! Ele não tem nada grave! Vamos pensar positivo!-grasnou Erin, com uma voz rouca.

Para alívio dos dois, um médico alto e magro se aproximou.

-Vocês são os colegas de David?-perguntou o médico.

-Sim! –responderam os dois ao mesmo tempo.

-Tenho uma boa e uma má notícia, qual vocês querem ouvir primeiro?

-Hum... Queremos a má noticia primeiro! –respondeu Erin cada vez mais preocupado.

-Tudo bem... A má notícia é que não conseguimos diagnosticar o problema de David. -falou o médico, bastante apreensivo.

-E a boa?-perguntou Joanna um pouco angustiada.

-Bem, a boa notícia é que fizemos todos os exames possíveis e nenhum deles indicou que David pode ter alguma doença grave. Acreditamos que possa ser algo psicológico, mas ainda não podemos afirmar com certeza. David parece estar muito estressado, então pode ser que ele esteja sofrendo com sintomas de estresse ou até mesmo depressão.

-Então... O que vai acontecer com ele agora?-perguntou Erin, olhando para o corredor, como se quisesse ver o seu amigo por lá.

-David está dormindo agora. –falou o médico, percebendo a preocupação de Erin. –Se vocês quiserem, podem vê-lo, mas evitem dizer ou fazer algo que possa perturbá-lo.

-Sim, claro. –disse Erin, um pouco aliviado de poder ver seu amigo.

Os dois cientistas e o médico caminharam pelo corredor até chegar ao quarto de David. Ambos cuidadosos, Joanna e Erin se aproximaram da cama e observaram seu companheiro de laboratório dormir tranquilamente.

-Isso é bom, parece que ele não está tendo pesadelos agora... –disse Erin, dando pequenos passos silenciosos e chegando bem perto da cama.

-Pesadelos?-perguntam Joanna e o médico ao mesmo tempo, encarando-se preocupados depois.

David começa a se virar de um lado para outro. Seus movimentos são cada vez mais bruscos. Lentamente, ele abre os olhos e depois de alguns segundos olhando para o teto, senta-se na cama.

-O que estou fazendo aqui?-perguntou David ao avistar Erin.

-Não se lembra? Você começou a passar mal, como se tivesse visto algo assustador e depois acabou desmaiando!-respondeu Erin, franzindo a testa de tanta preocupação.

-Eu desmaiei? Não consigo me lembrar de nada disso! -falou David, ignorando a preocupação de seu amigo, levantando-se da cama e procurando seu jaleco e sapatos.

-Ei, o que pensa que está fazendo? Você não pode sair daqui agora! Não é mesmo, doutor?-perguntou Erin, olhando suplicante para o médico, que estava distraído.

-B-Bom, David está bem, só precisa de um tempo para descansar, talvez seja melhor que ele tire uma licença para cuidar de sua saúde... – respondeu o médico, procurando justificativas e tentando esconder sua despreocupação.

-NÃO! EU ESTOU PERFEITAMENTE BEM! NÃO VOU TIRAR LICENÇA NENHUMA!-falou David de um modo agressivo.

Depois de vestir seu jaleco e calçar seus sapatos, David saiu do quarto rapidamente, como se estivesse fugindo.

-David, espere! Você precisa cuidar da sua saúde! David! Estou preocupado com você!-grasnou Erin, tentando acompanhar David, que andava rapidamente em direção à saída da ala hospitalar. O médico e Joanna também correram e tentaram alcançá-lo.

-David, por favor, escute seu amigo! –falou o médico, tentando andar rápido e se esquivando de macas e enfermeiros.

-David, quando você desmaiou, achei que estivesse morto! Não é melhor você descansar um pouco para evitar que isso possa acontecer novamente? –disse Joanna, quase alcançando Erin, que estava na frente.

-TIRE UMA LICENÇA, POR FAVOR! -suplicou Erin, cujos sapatos de borracha derrapavam no chão escorregadio do corredor da ala hospitalar.

Depois de sair da ala hospitalar, David diminuiu o passo. Erin finalmente o alcançou e Joanna também. O médico resolveu voltar ao seu posto, pois um dos enfermeiros o chamou. David encarou Erin com um olhar meio insano e revoltado.

-EU JÁ DISSE QUE NÃO VOU TIRAR LICENÇA! NÃO ESTOU DOENTE E MUITO MENOS MORTO! ESTOU VIVO! ESTOU BEM! DEIXEM-ME EM PAZ! –praguejou David, com seus óculos tortos escorregando pelo nariz. Ficou ofegante de tanta fúria.

-Você não está bem, precisa se tratar! –falou Erin, tentando puxar seu amigo de volta para a ala hospitalar.

-SOLTE-ME! O QUE FOI? QUER ME VER PELAS COSTAS? POR QUÊ? QUER FICAR SOZINHO COM ELA? É ISSO? - gritou David, ofegante e totalmente fora de si.

Erin o encarou como se não o reconhecesse.

-ÓTIMO, SE VOCÊ ACHA QUE ESTÁ MESMO BEM, ENTÃO NÃO VOU MAIS ME PREOCUPAR! SE ALGUMA COISA ACONTECER, NÃO VOU ME IMPORTAR! VOCÊ É UM IDIOTA TEIMOSO! MUITO TEIMOSO!- exclamou Erin em alto tom de voz, perdendo a paciência e voltando a passos largos para o setor 048, deixando David e Joanna para trás.

Joanna encarou David com um olhar de indignação.

-David, você exagerou, Erin estava muito preocupado com você!-disse ela, dando-lhe as costas e tentando alcançar Erin, que caminhava em direção ao seu novo setor.

-ATÉ VOCÊ? NÃO ERA VOCÊ QUE ESTAVA FURIOSA COM ELE? AGORA VAI DEFENDÊ-LO?-grasnou David, já falando sozinho, pois Joanna havia desaparecido na curva do corredor. –O que há de errado com eles... -David suspirou e continuou a andar, meio cabisbaixo. 

Poucos segundos depois, ele suspirou novamente.









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