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domingo, 9 de dezembro de 2012

O Príncipe de Cheonan (capítulo 1)

Oi pessoal! Como vão?

Hoje tenho o prazer de lhes apresentar minha nova história: O Príncipe de Cheonan!

Assim como A parede de cristal, O Príncipe de Cheonan é uma história original, e devo admitir que foi uma experiência nova para mim, pois minhas histórias sempre são escritas na terceira pessoa (narrador observador). Em O Príncipe de Cheonan, eu me arrisquei a escrever a história com uma narração em primeira pessoa (ou seja, a protagonista narra a história). Foi realmente difícil e confuso pra mim, mas eu queria ampliar meus horizontes e acho que essa é a oportunidade perfeita.

Aos leitores de A parede de cristal, não se preocupem, pois eu não vou desistir da história (ainda mais quando está chegando na melhor parte! rsrs). E digo mais, vou fazer uma reformulação de todos os capítulos que eu já postei aqui no blog. Nessa reformulação, eu acrescentarei mais descrições dos personagens e melhorarei os detalhes da história de toda forma possível. Quando eu reformular um capítulo, avisarei numa postagem, ok? rsrs

Bom, chega de rodeios! Vamos ao que interessa!

Classificação indicativa: 16 anos
Gêneros: Ação, mistério, romance, drama, sobrenatural.

Obs.: No final de cada capítulo, colocarei uma "curiosidade" sobre a história (envolvendo enredo, personagens, inspiração etc)

Capa da fanfic


Prólogo 

Todo dia é a mesma coisa. O despertador toca, eu me acordo, levanto, tomo um banho e visto uma roupa cafona que encontro no fundo do meu armário. Desço as escadas ainda com o cabelo molhado e vou até a cozinha, onde minha mãe está preparando o café da manhã... Enfim, depois de comer, saio de casa quase correndo e sempre bato o portão enferrujado que faz um barulho esquisito, aceno para minha mãe e ela acena de volta, sorrindo. Tudo normal. 

No caminho para a universidade, sinto minha felicidade se esvaindo a cada passo. Pego o ônibus de sempre e vejo a mesma paisagem. Os dias são todos iguais, as pessoas são as mesmas e o tédio se mistura à insegurança de estar deixando o melhor da vida escapar pelas minhas mãos. 

Meu nome é Yoon Tae Hee, moro em Cheonan, Coréia do Sul. Sou uma garota de 21 anos e estou no penúltimo ano da faculdade de História. Além de estudar, tenho um trabalho sem graça de meio período numa cafeteria perto da universidade. Aqui em Cheonan tudo é meio parado, difícil encontrar coisas novas. 

Muitos devem estar achando que eu devo ser uma garota muito dramática, mas também devem estar desconsiderando um fato importante: Toda garota sonha pelo menos uma vez na vida que um dia poderá viver uma grande aventura ou um grande amor proibido. E comigo não é diferente. Por muitos anos esperei que esse maravilhoso dia chegasse, mas à medida que o tempo passava e minha vida continuava chata e sem sentido, fui perdendo as esperanças. 

“A vida é feita de sonhos. Grande parte deles é improvável, impossível de se realizar. E por isso muitas vezes a desesperança toma conta de nós.” 

Porém, quando menos se espera, as coisas mudam. E mudam de um jeito tão drástico e incontrolável que nos fazem querer voltar ao começo, onde tudo era simples e tedioso. 

Essa é a história de como conheci a pessoa mais incrível do mundo. Alguém que me hipnotizou com sua beleza, mistério e imponência. Alguém que me deixou sem fôlego e roubou meu coração. Alguém que eu desejaria nunca ter conhecido, mas que ao mesmo tempo, queria tê-lo para sempre. 




Capítulo 1 – A três passos do inferno 

“Alguns dizem que a morte pode ser o começo de uma nova vida, outros preferem acreditar que ela é uma coisa muito ruim, pois o fim de uma vida representa mau agouro. Não sei ao certo qual dessas duas opiniões é verdadeira, porém, os fatos apontam para um meio-termo, já que minha vida mudou depois de uma morte. Se foi para bem ou para mal, isso só o tempo dirá.” 

Meu relógio de pulso indicava oito horas da manhã. Estou Atrasada, muito atrasada. A aula começaria às sete e meia. Por sorte, só faltava mais uma quadra para chegar à universidade. Corri feito louca. Por que minha mãe insiste sempre em preparar aquele café da manhã tão demorado? Se não fosse por isso, eu já estaria sentada em minha cadeira confortavelmente assistindo a aula de história contemporânea do professor Chun. Todos os dias perco o horário do ônibus, e além de tudo, ainda preciso andar mais cinco quarteirões a pé. Minhas pernas finas não aguentam mais essa maratona. Ao longe, consigo avistar os portões altos e largos da Universidade de Cheonan. Corro mais depressa e ouço minha respiração ficar descompassada. A Universidade de Cheonan fica muito longe do centro, na verdade, ela se localiza bem no meio do nada, onde há apenas cadeias montanhosas e plantações de arroz. De vez em quando é possível avistar uma ou outra loja de conveniência, um posto de gasolina e a pequena cafeteria a qual eu trabalho no fim da tarde. Atravessando os portões da universidade, passo rapidamente pelo guarda que me cumprimenta com um olhar cabisbaixo. O departamento de História é logo ao lado do auditório. Ufa! Finalmente cheguei! 

Parei há alguns metros do departamento de História para recuperar o fôlego e percebi uma movimentação fora do comum. Já eram mais de oito horas, os estudantes deveriam estar em suas salas de aula, mas por algum motivo não estavam. Havia um alvoroço em torno das grandes portas de vidro do auditório. Avistei Soung Yo Jin, minha melhor amiga, e quando olhei para seu rosto vi que ela estava com os olhos cheios de lágrimas. Isso me deixou realmente surpresa, pois nunca havia visto Yo Jin chorando desde que nos conhecemos. O que será que aconteceu? 

Yo Jin é uma garota extrovertida e alegre, algumas vezes gostava de agir como a líder da turma, sempre mandona e de personalidade forte. Além disso, era muito bonita. Tinha um rosto redondo e os olhos grandes, que sempre brilhavam de uma maneira especial quando estava contente. Seu corpo era esbelto e cheio de curvas, bem diferente mim. Sempre fui muito magra e desengonçada, desprovida de qualquer atrativo à primeira vista. Nossas personalidades também eram bastante distintas. Sempre fui mais reservada, ao contrário dela, que gostava de sair por aí contando suas intimidades para todo mundo. Há alguns meses atrás, nós duas combinamos de pintar os cabelos de loiro. Na verdade, ela quase me obrigou a fazer isso. Yo Jin, como era de se esperar, ficou ainda mais linda com seus cabelos compridos e dourados. Eu, pelo contrário, fiquei parecendo uma aberração. Por isso desisti do loiro e pintei meus cabelos de castanho-escuros. Ter os cabelos compridos e escuros combina mais comigo. 

Era a primeira vez que via minha melhor amiga chorando. Senti um nó na garganta enquanto observava Yo Jin ser consolada por outras garotas. 

-Yo Jin! –gritei por ela, e só nesse momento percebi que outras pessoas também estavam chorando, inclusive alguns professores. 

-Tae Hee! – ela correu em minha direção e me abraçou forte, derramando suas lágrimas sobre meus ombros. 

-O que aconteceu? Por que tanta gente está chorando? –olhei para os lados e fiquei assustada com toda aquela comoção. 

Yo Jin tomou fôlego e respondeu entre soluços: 

-Tae Hee! Aconteceu algo terrível! O professor Chun morreu! 

Depois de dizer essas palavras, ela desabou a chorar. Arregalei os olhos por causa do choque. Como poderia? O professor Chun morreu? Logo ele, o professor mais querido do departamento de História! Não era à toa que todas aquelas pessoas estavam comovidas. 

-Como ele morreu? De quê? –perguntei, ainda não acreditando no que acabara de ouvir. 

-Foi ataque cardíaco, ele estava sozinho em casa... Ninguém esperava que isso pudesse acontecer, o professor parecia tão saudável! 

-Realmente uma fatalidade... 

Enquanto Yo Jin chorava nos meus ombros, uma estranha sensação tomou conta do meu corpo naquele momento. Senti um calafrio. Morte. Morte. O que é a morte? 

Acariciei os cabelos de Yo Jin no intuito de confortá-la, porém, minha mente não estava mais ali. Percebi que o choque da notícia tinha me levado para uma espécie de transe. Não era tristeza, muito menos dor, era apenas uma sensação de frieza dentro de mim, uma frieza que me assustava. Por que não chorei? Por que não me senti triste como Yo Jin? Talvez ela estivesse tão desolada por que era a aluna preferida do professor Chun. Ele nunca havia me tratado tão bem quanto ela. Será que tudo que eu conseguia sentir naquele momento era inveja da minha melhor amiga? Fechei os olhos. Tentei expulsar todos aqueles pensamentos repulsivos da minha alma. Resolvi pensar no futuro. O que aconteceria de agora em diante depois da morte do professor Chun? Quem seria o seu substituto? Talvez o novo professor gostasse mais de mim do que de Yo Jin. Os pensamentos repulsivos voltaram a me atormentar. 

“Cada um de nós possui um lado do bem e outro do mal. Controlamos numa balança precisa a dose certa para cada um deles. O bem prevalece se alimentarmos o nosso lado bom com coisas boas, já o mal prevalece se alimentarmos o nosso lado mal com pensamentos e atitudes ruins.” 

O auditório rapidamente ficou preenchido por centenas de pessoas. O diretor do departamento e os professores veteranos se preparavam para fazerem um discurso em homenagem ao professor Chun. Enquanto isso, as últimas cadeiras foram sendo ocupadas. Yo Jin e eu sentamos nas cadeiras do centro, perto de alguns professores novatos, que pareciam meio desinteressados e alheios a toda aquela comoção. Yo Jin continuava a soluçar, as suas outras amigas ainda tentavam consolá-la, e eu, como já havia perdido a paciência com aquela situação, me rendi à frieza assim como os professores que estavam sentados ao meu lado. 

Três pessoas se aproximaram do ponto mais baixo do auditório onde todos os presentes podiam enxergá-los. Mark Frigg, um canadense de meia idade que coordenava o departamento de História; Lee Hak Moon, um dos professores mais velhos que lecionava naquele departamento há quase 30 anos; e Jang Sang Woo, o elegante diretor do departamento de História, estavam a postos para discursar e fazer suas homenagens ao falecido professor Chun, que apesar de sua aparência jovial, lecionava naquela universidade a mais de 37 anos. Cada um deles falou da competência e dedicação do professor Chun Geun Soo, um homem de caráter inabalável e de personalidade alegre e extrovertida. Porém, nenhum deles mencionou o quanto o professor Chun gostava de beneficiar as garotas mais bonitas de sua turma, nem tão pouco falaram de sua ex - esposa de 35 anos de idade (31 anos mais nova do que ele) e de seu pequeno filho, que completaria oito anos na próxima semana. Chun havia se casado três vezes, e esses três casamentos lhe deram quatro filhos. Seu filho mais velho era apenas um ano mais velho que sua ex - esposa. Há pouco mais de três meses, o professor Chun havia assinado os papéis de divórcio. E o motivo da separação foi muito doloroso para ele. Chun Geun Soo descobriu que sua esposa o traía com seu filho mais velho. Pediu até um teste de DNA para saber se seu filho mais novo era mesmo seu filho biológico (e não seu neto). O resultado deu positivo, mas uma disputa na justiça garantiu a guarda da criança para a mãe, que logo após a separação, foi morar com o seu ex - enteado. 

Aquele homem de 66 anos, que adorava lecionar, escondia por trás de seu sorriso jovial uma tristeza que beirava a depressão. E eu percebia. Eu percebia que aquela personalidade alegre escondia sua verdadeira condição. Um homem infeliz, que havia sido traído pela esposa e pelo filho mais velho. Havia dor naquele olhar. 

Depois de muitos elogios e aplausos em homenagem ao nosso querido professor, as pessoas começaram a sair do auditório. Pouco a pouco, aquele imenso lugar foi ficando vazio. Alguns professores ainda conversavam cabisbaixos, outros cochichavam sobre a falta de consideração da esposa, que nem ao menos foi à universidade para prestar suas últimas homenagens. Eu penso que seria errado. O professor Chun não ficaria nada feliz se aquela mulher aparecesse por aqui. 

Foi decretado dois dias de luto. Não haveria aula naquela universidade por dois dias. E se vocês querem saber, eu não fiquei nada contente com isso. A única coisa que me mantinha entretida eram aquelas aulas, e agora, nem isso eu teria. 

Após algumas horas tendo de aturar os intermináveis lamentos de Yo Jin, resolvi ir trabalhar na cafeteria. Aquela universidade estava silenciosa demais, se eu continuasse ali mais um minuto escutando os gemidos de Yo Jin como uma assombração em meio ao silêncio mórbido, talvez ficasse louca. Perguntei a ela se queria me acompanhar até a cafeteria, porém, Yo Jin me disse que não tinha humor para ir a “um lugar alegre e festivo” como aquele. Se ela soubesse o quanto aquela cafeteria estava sem graça ultimamente, nunca teria mencionado a palavra “festivo”. Yo Jin quase nunca passava por lá, e quando passava, tinha sorte de haver mais alguém além de mim e meu colega de turno para lhe fazer companhia. 

Fui caminhando para o trabalho, pensando se o professor Chun teria aproveitado a vida ao máximo nesses seus 66 anos de existência. Será que um dia eu viveria algo tão emocionante que pudesse ser comparado a uma traição sórdida como a que ele sofreu? Apesar de ser uma coisa muito ruim, deve ter sido algo marcante na vida do professor. Talvez até mesmo a causa da sua morte repentina. 

Meus pés se moviam ao longo do meio fio da estrada. Senti minhas mãos congelando. Ainda eram três da tarde e muitas nuvens escuras se acumulavam no céu. Talvez à noite pudesse nevar. O inverno estava chegando e a paisagem daquele lugar ficaria um pouco diferente do habitual. Neve por toda parte. Branca. Gelada como o meu coração. 

A fachada da cafeteria era bastante receptiva. As cores vibrantes e o vidro transparente que permitia uma visão ampla do interior do local, cheio de poltronas confortáveis e de café fumegante, era um convite para qualquer transeunte que passava por ali. 

O som do pequeno sino que ficava acima da porta anunciou minha chegada. Caminhei até o balcão e cumprimentei Eun Seong Min, o meu colega de turno. Seong Min era um rapaz franzino e cheio de espinhas no rosto. Tinha apenas 17 anos e sustentava a família pobre cuja mãe estava doente e não podia trabalhar. Seus cinco irmãos mais novos apenas estudavam, e ele fazia questão de que os irmãos só se dedicassem a isso. Seong Min abriu rapidamente uma pequena passagem no balcão para que eu atravessasse para o outro lado. Adentrei pela porta dos funcionários e fui até meu armário, onde estava guardado meu uniforme. Não era nada extravagante, porém havia algo que me deixava irritada naquela roupa. Um macacão de cor amarelo-desbotado com o logotipo “Cafeteria Goung Joo”. Definitivamente aquilo me deixava com uma péssima autoestima. Sempre que o vestia, parecia mais uma operária do que uma funcionária de cafeteria. 

Prendi meus cabelos no auto da cabeça fazendo um coque desarrumado e respirei fundo. Era hora de ter paciência e esperar até que um ou outro cliente aparecesse. Com o falecimento do professor Chun, dificilmente a cafeteria teria algum movimento. 

O tédio me consumia e as horas pareciam intermináveis. Fiquei desenhando no meu bloquinho de pedidos enquanto Seong Min dormia com a cabeça encostada no balcão. De repente, o som do sininho pega-nos desprevenidos. Alguém acaba de entrar. Seong Min acorda assustado e logo se levanta para atender os novos clientes. São três professores. Os mesmos que estavam sentados ao meu lado no auditório durante as homenagens ao professor Chun. Seong Min anotou os pedidos e entregou-os para mim. Apenas dois cafés-pretos e um chá-verde, acompanhados de um pedaço de torta de cereja. Isso era fácil. Deviam ter pedido um capuccino de chocolate ou um chá de ervas variadas. Assim eu demoraria mais tempo para fazê-los e talvez as horas se passassem mais depressa. 

Seong Min entregou os pedidos aos clientes. Eles pareciam felizes ao checar a aparência da torta de cereja, que era o especial da casa. Na verdade, não havia nada de especial na torta, mas por algum motivo ela era a mais pedida entre todas as tortas, bolos e doces que vendiam ali. Depois de comerem, eles pagaram a conta e foram embora rapidamente. 

Tédio. Depois de mais três horas, já estávamos prontos para fechar. É claro que nessas horas sempre surge das cinzas um bendito cliente que nos faz atrasar a fechada da cafeteria. Um homem alto e gordo entrou antes que pudéssemos virar o letreiro para “fechado”, ele pediu um capuccino de conhaque e ainda demorou uma eternidade para tomá-lo. Não sei por que as coisas terminam desta forma. Em um dia sem movimento, acabo saindo mais tarde do que em um dia comum. 

Dez e meia da noite. Meia hora de atraso. Minha mãe já deveria estar preocupada, ela é super- protetora e quando esse tipo de coisa acontece, ela sempre pensa no pior. Não vou ligar para ela. Sei que estou sendo cruel. Fui até meu armário e guardei o uniforme. Desmanchei o coque e deixei meu cabelo solto e despenteado. Seong Min já estava na frente da cafeteria, me esperando impaciente. 

Tranquei a porta da cafeteria e me despedi de Seong Min. Nós morávamos em direções opostas, então cada um ia para um lado diferente. Seong Min morava mais além da universidade, numa pequena vila. Já eu, precisaria caminhar os mesmos cinco quarteirões de sempre até chegar ao ponto de ônibus, que finalmente me levaria de volta para casa. 

A noite estava muito fria. Foi realmente um erro não ter trazido luvas. Abracei o meu corpo tentando amenizar aquela sensação térmica abaixo de zero. Caminhei pelos cantos da estrada deserta e percebi que estava sendo cuidadosa demais. Porque andar pelo meio fio se eu posso caminhar pelo centro da estrada? Não havia ninguém ali. E certamente nenhum automóvel passaria por ali nos próximos minutos. Vou arriscar. 

Fui até o meio da pista. Meus pés estavam sobre a linha branca. Bom seria se estivesse numa encruzilhada, assim poderia invocar um demônio. No meio daquela estrada deserta comecei a caminhar sem pressa, sempre na mesma direção. Agora só faltavam quatro quarteirões. Olhei para o céu. Estava cheio de nuvens. Por um momento, pensei ter visto uma luz. Poderá ser a lua? –pensei. Continuei olhando para cima na esperança de encontrar a lua em seu total esplendor. Infelizmente as nuvens não se dispersavam. Um barulho de automóvel me fez voltar à realidade e sair do centro da pista. Voltei ao meio fio. Um caminhão passou a 100 km/h. O caminho mais curto era pela estrada, mas e se desta vez eu tentasse ir por um caminho diferente? Olhei para a viela que estava ao meu lado. Se eu entrasse ali, talvez pudesse ver algo que eu nunca havia visto antes. Vou arriscar. 

Apenas janelas. Persianas fechadas, luzes acesas e outras se apagando. Não era nada de novo, apenas o mesmo lugar tedioso de sempre, só que muito mais escuro. Mas o que eu esperava encontrar? Um reino encantado? Dia estranho não, eu é que estou estranha. Talvez a morte do professor Chun tenha me abalado um pouco. Minhas esperanças de viver uma grande aventura parecem renovadas. Aquela fantasia de menina sonhadora e ingênua. Coloquei as mãos nos bolsos e olhei novamente para o céu. Não dava para ver muito naquele beco estreito. Lua. LUA! Estanquei. Havia algo de estranho na lua naquela noite. Fiquei parada observando a coroa da lua, ela estava vermelha. UAU! 

Em poucos segundos, as nuvens encobriram a lua novamente. Fiquei decepcionada. De repente, senti uma coisa gelada na minha nuca, depois no meu antebraço, depois no meu rosto. Chuva. A chuva gelada me deixou apreensiva. Comecei a correr. Vou pegar um resfriado, e o pior, não sei quanto tempo de percurso ainda falta para chegar até o ponto de ônibus! 

Péssima ideia. Por que eu inventei de ir por um caminho diferente? Agora estou perdida, e ainda por cima, está chovendo! Tentei achar um caminho que levasse até a estrada, porém só achei vielas e mais vielas! Continuei correndo, com meus braços acima da cabeça para me proteger da chuva. Minha roupa já estava encharcada. Resolvi entrar numa outra viela, talvez nessa eu tivesse mais sorte. Na curva, esbarrei em alguém. O homem deveria ter mais ou menos uns trinta anos de idade. Estava ofegante e amedrontado, em sua face mostrava um terror profundo. Deixou cair uma bolsa, e de dentro dela caíram diversas joias. Colares, brincos e braceletes de diamantes. Quando percebeu que eu estava olhando com cara de surpresa para elas, o homem enfiou a mão no bolso e retirou um pequeno canivete. Apontou-o na minha direção. 

-Você está com ele? Está com ele, não é? – perguntou o homem, completamente fora de si, aproximando o canivete da minha garganta. 

-Do que está falando?- meu coração quase saía pela boca. 

-VADIA MENTIROSA! VOCÊ NÃO VAI ME PEGAR! –gritou o homem, empunhando o canivete e prestes a lançá-lo contra mim. 

Fechei os olhos e me encolhi na esperança de que o golpe não me atingisse. Para minha surpresa, não senti nenhuma dor. Quando abri os olhos, o homem estava paralisado na minha frente. Seus olhos estavam arregalados e ele ainda empunhava o canivete acima da cabeça. De repente, uma mancha de sangue surgiu no peito do homem. A mancha foi ficando maior, e maior, até que ele caiu de bruços no chão, revelando um punhal cravado em suas costas. Tapei a boca e abafei meu grito. Meus olhos não acreditavam no que viam. Dei três passos largos para trás e depois estanquei. 

Subitamente, uma sombra apareceu no fim da viela. Uma silhueta de homem. Estava escuro demais para ver o seu rosto. Ele se aproximou lentamente do homem caído no chão, abaixou-se e retirou o punhal de suas costas com um movimento rápido e violento. Guardou a arma dentro da roupa e agarrou a cabeça do homem. Meus pés não conseguiam sair do lugar. Achei que ele estivesse apenas verificando se o homem estava morto ou talvez quisesse roubar as joias, mas não era isso. Ele abocanhou o pescoço do homem como se fosse uma fera faminta. Passou mais de um minuto sugando seu sangue. Quando terminou, estava ofegante e satisfeito. Largou o homem sem vida no chão, levantou-se e ficou parado. Os cabelos molhados de chuva encobriam seus olhos, assim como as nuvens encobriam a lua naquela noite e deixava tudo na total escuridão. Porém, mesmo não vendo seus olhos, eu tinha certeza de que ele estava olhando para mim. 

Naquela escuridão chuvosa, eu estava a três passos do inferno. A três passos do inferno, eu esperava pela minha morte. 

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Curiosidades sobre "O Príncipe de Cheonan":

//De onde surgiu esse nome?

Bom, devo admitir que o título original era "O príncipe de Goathan", mas como eu queria que fosse um lugar real localizado na Coréia do Sul, resolvi pesquisar e "achei" a cidade de Cheonan, que fica a 83,6 Km da Capital Seul. No começo, não tinha muita certeza se queria que tudo se passasse numa cidade que eu nunca tinha ouvido falar, mas aí eu descobri que assim seria melhor, pois desta forma, minha mente ficaria mais aberta tanto para inventar quanto para pesquisar mais sobre a cidade (e convenhamos, conhecimento nunca é demais, né?, mesmo que seja sobre uma cidade lá nos confins da Terra! ashuashuashu). Espero que essa história me dê oportunidade de saber mais sobre a Coréia do Sul.

Até mais!







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