Oi pessoal, desculpem a demora, realmente fui um pouco descuidada nesses dias (traduzindo: tive preguiça), mas finalmente o sexto capítulo de A parede de cristal está pronto, espero que gostem!
Capítulo
6 – Setor 048
Três setores foram desestruturados para
que o novo setor, 048, também chamado de OEB (organismos extraterrestres de
Babylon) fosse instalado. Não havia nada de diferente em sua aparência externa,
só uma porta de entrada mais larga onde estava escrito “048-OEB” em letras douradas.
Porém, sua estrutura interna era bem mais estranha e peculiar. Muitas máquinas,
microscópios gigantes, computadores do tamanho de um armário e da espessura de
um espelho, tomavam a maior parte do laboratório. Seis tubos transparentes
ocupavam os lugares mais afastados no canto da sala, tinham quase 3 metros de
altura, 1.5 metro de diâmetro e eram completamente vedados, apenas com
aberturas que se ligavam a cabos de larga espessura. O laboratório era dividido
em cinco alas, cada uma destinada às equipes selecionadas para fazer parte do
novo setor unificado. Junto à equipe de David, estaria a equipe de testes de
sobrevivência, a equipe especializada em desenvolvimento de novas drogas e
medicamentos, a equipe de investigação do comportamento humano e extraterrestre,
e a equipe de segurança planetária.
David, Erin e Joanna ainda estavam no
laboratório 513 se aprontando para a mudança. Joanna continuava furiosa.
Retirava seus pertences da sua “nova antiga” mesa de trabalho e sua raiva era
tanta que acabou derrubando seus documentos no chão. Erin tentou ajudá-la, porém
a garota simplesmente o empurrou e soltou um berro “Não preciso de sua ajuda!”.
David também tentou se aproximar e lhe dar uma mão, felizmente a garota não
gritou com ele e mesmo de má vontade, acabou aceitando sua ajuda. Erin ficou com uma cara emburrada ao perceber
que Joanna estava furiosa principalmente com ele.
Os três terminaram de encaixotar suas
coisas e os funcionários do almoxarifado levaram tudo em um carrinho móvel para
o novo setor. A sala ficou vazia, exceto pelos cientistas dentro dela.
-Faz pouco mais de um ano que estamos
em Smart City, quase um ano trabalhando nessa sala, mas, na verdade, parece
muito mais tempo do que isso... Esse lugar se tornou o meu lar, é como se eu
vivesse aqui há anos!- discursou David, olhando para o espaço vazio deixado em
seu laboratório, que antes era ocupado por três mesas, quatro armários e um enorme
balcão.
-Esse lugar nos trás muitas lembranças...
Lembra-se de quando entramos aqui pela primeira vez?-perguntou Erin, esticando
os braços. -Estava tudo desarrumado e fazia uns três anos que ninguém ocupava
esse espaço! Isso porque sendo o último laboratório, distante dos dormitórios e
principalmente do refeitório central, ninguém queria ficar com ele, nem comer
no refeitório secundário!
-Tem razão, naquela época o refeitório
secundário estava sendo reformado e nós não podíamos perder tempo caminhando
até o refeitório principal, tínhamos que comer com todo aquele barulho e
poeira!- completou David, com uma expressão nostálgica no rosto.
-É difícil acreditar que só um ano se
passou, parece que aqui, em Smart City, o tempo passa mais devagar... -disse
Erin com um sorriso abobalhado, suspirando.
-Acho que é a gente que perde a noção
do tempo estando aqui em baixo. –sussurrou David, tentando esconder sua voz
trêmula e emocionada.
Joanna observava com um olhar sereno os
dois rapazes parados no meio da sala vazia. Os dois conversavam emocionados,
falavam das confusões em que se meteram nos primeiros dias de trabalho, riam de
seus próprios erros, olhavam para os cantos e para o teto do laboratório, como
se enxergassem neles cada acontecimento dos últimos 13 meses.
-Vamos, David, é hora de ir... –falou
Erin, um pouco triste, passando pela soleira da porta, acompanhado por Joanna.
-Sim. –respondeu David, suspirando e
dando uma última olhada em seu antigo laboratório. Logo em seguida saiu e
fechou a porta.
Os três cientistas caminhavam em
direção ao seu novo setor. Joanna não parecia tão furiosa quanto antes, porém
andava um pouco mais afastada dos rapazes. Mostrava-se incomodada com algo.
-Hum... Vocês são amigos há muito
tempo?-perguntou a garota, meio tímida.
Os rapazes olharam para a jovem,
surpreendidos, pois até aquele momento, Joanna não tinha perguntado nada que
não fosse relacionado ao trabalho. Passaram-se alguns segundos até se darem
conta de que não haviam respondido a sua pergunta. David resolveu tomar a
iniciativa, já que Erin permanecia calado.
-Sim, nós nos conhecemos na faculdade,
estudávamos na mesma turma... -respondeu David, enquanto Erin os observava meio
cismado.
-E os dois conseguiram entrar em Smart
City ao mesmo tempo? Que incrível!-falou Joanna, olhando admirada para os
rapazes.
Erin olha para Joanna e finalmente
resolve falar, gaguejando por causa do nervosismo:
-S-Sim, quando eu soube que David tinha
o sonho de trabalhar em Smart City, assim como eu, fiquei muito contente e
tentei fazer amizade com ele, nós tínhamos muitas coisas em comum e por isso
rapidamente ficamos amigos, depois disso, prometemos um ao outro que iríamos
entrar juntos! -disse ele, meio tímido e atrapalhado, evitando os olhares de
Joanna.
A garota ficou parada, encarando Erin.
Depois, começou a rir, com um sorriso malicioso. O rapaz arregalou os olhos sem
entender nada.
-Isso é tão... Gay! -disse ela,
tentando controlar o riso e ficando vermelha.
-HÃ? MAS... MAS... EU NÃO SOU
GAY! -praguejou Erin indignado, enquanto Joanna soltava umas risadinhas e
apressava o passo, deixando os rapazes para trás. –EI! ESPERA AÍ! EU NÃO SOU
GAY!
-Parece que ela gosta de você! -falou
David, quase gargalhando.
-Pare de zombar de mim! –exclamou Erin,
furioso. –Ela me odeia!
-Foi você que começou, falando mal do
irmão dela, esqueceu? -disse David, tentando ao máximo conter o riso, enquanto
Erin sussurrava nomes feios.
Finalmente os jovens cientistas chegaram
ao setor 048. Observavam admirados o interior do gigante laboratório. Um dos
cientistas responsável pelos testes de sobrevivência acompanhou os três como se
fossem turistas e mostrou-lhes cada ala, explicando suas funcionalidades.
-Acho que não conheço você... -falou o
cientista, referindo-se a Joanna.
-Ah! Peço desculpas, eu não me
apresentei! Sou Joanna Lidberg, a nova integrante da equipe de estudos de
organismos multicelulares extraterrestres!-a garota apertou a mão do cientista
e ele sorriu docemente.
-Muito prazer, eu me chamo Steven, e se
me permite um elogio, devo dizer que você é muito bonita!-falou o cientista de
30 anos, cabelos claros e olhos azuis. –Talvez você ainda não saiba, mas eu
acabei de ser nomeado chefe do setor 048...
-HÃ? Você é o chefe do setor? Tão
jovem?!-interrompeu Erin, que não parava de olhar para a mão de Joanna que
segurava a mão de Steven.
-Não acho que eu seja tão jovem assim,
e além do mais, quando se é competente, não existe idade para assumir um cargo
importante! -respondeu Steven, soltando a mão de Joanna e encarando Erin com um
olhar ameaçador.
-Eu não gosto desse cara... -sussurrou
Erin para David.
-Bom, de qualquer forma, parece que ele
também não gostou de você. -sussurrou David para Erin.
Steven mostrou todas as instalações,
inclusive a ala da equipe de David. A ala era bastante ampla, três mesas de
trabalho e armários embutidos nas paredes, além disso, tinha aparelhagem nova
para ajudar nas pesquisas. As caixas onde se encontravam as coisas do
laboratório antigo estavam encostadas no canto da parede.
-Vocês irão ficar aqui, percebam que
todas as alas são abertas, assim poderemos nos comunicar mais facilmente e não
teremos problemas caso alguém queira fazer o que não deve... -disse Steven, com
uma voz autoritária e logo depois um sorriso radiante voltado para Joanna.
-O que você quer dizer com “fazer o que
não deve”?-perguntou David, sentindo-se desconfortável naquele lugar.
-Apenas precauções... -respondeu Steven
com um olhar distante. –Bom, fiquem a vontade para arrumar suas coisas e se
instalarem definitivamente aqui.
Steven se retirou da sala. David
começou a desencaixotar suas coisas. Erin e Joanna resolvem acompanhá-lo e fazer
o mesmo. Enquanto arrumava seus pertences, começando pelo pequeno microscópio
que foi um presente de seu pai, David avistou no canto do laboratório, fora das
alas, os tubos gigantes. David passou algum tempo parado, olhando admirado para
os tubos, como se eles fossem lhe dizer algo. Seu coração começou a bater mais
forte.
-Steven não nos disse o que era
aquilo... -falou David, com o olhar fixo nos tubos e apontando para eles.
-Hã? Aquilo o quê? -perguntou Erin,
curioso, virando sua cabeça para o lado.
David pede para que o rapaz se aproxime
e olhe para o canto direito do enorme laboratório. Erin finalmente avista os
tubos. Joanna acaba se aproximando para ver também.
-Nossa, que estranho! -exclamou Erin.
–Vamos ver de perto!
Erin caminhou rapidamente em direção
aos tubos, e Joanna o acompanhou curiosa. David ainda ficou parado por mais
alguns instantes, porém, depois de se dar conta que Erin e Joanna já estavam
longe, o rapaz correu para acompanhá-los. A distância entre a ala da equipe e
os tubos gigantes era de aproximadamente 70 metros.
-Caramba! De perto eles ainda são bem
mais assustadores! –disse Erin, olhando fascinado para os gigantes transparentes.
Joanna se aproximou mais e mais até
ficar bem perto e tocar um dos tubos.
-São lisos e frios... Do que será que
são feitos?-perguntou ela, acariciando a superfície dos tubos. – Parece até...
Cristal...
-Não sei... O que acha, David? -perguntou
Erin. - David? DAVID!
David estava assustado, como se tivesse
acabado de ver algo terrível e entrado em estado de choque. Sua expressão era
de horror, seus olhos estavam saltados e se mantinham fixos nos grandes tubos.
Seu corpo estava rígido como pedra.
-DAVID, O QUE ACONTECEU, VOCÊ ESTÁ BEM?
DAVID? -perguntou Erin, nervoso, empurrando e puxando o amigo para frente e
para trás. David permanecia em silêncio e estático.
Ao olhar para o rosto de David, Joanna também
ficou amedrontada.
-O que ele tem, Erin? -perguntou a
garota, dando um passo para trás inconscientemente.
-Eu não sei... DAVID, FALA
COMIGO!-gritou Erin, desesperado.
David sentiu seu corpo todo tremer, seu
coração batia tão rápido que parecia que iria sair pela boca. Começou a ter
vertigens. Sua visão foi ficando embaçada e as coisas giravam como num
carrossel. O nó na garganta o acometeu mais uma vez. Um suor frio emanou de sua
pele e David perdeu as forças até desmaiar. Erin segurou o amigo no chão.
-O QUE ESTÁ ACONTECENDO, ELE ESTÁ MORTO?
–perguntou Joanna, desesperada, aproximando-se do corpo.
-Não, ainda tem pulso... -disse Erin, segurando
o antebraço de David e tentando reanimar seu amigo. -Vamos lá, David, acorda,
por favor!
O rapaz permaneceu caído no chão. Ao
redor dele, estavam Joanna e Erin. Depois de alguns minutos, alguns
funcionários chegaram para ajudar e David foi levado numa maca para o setor
hospitalar de Smart City.
Na ala hospitalar, precisamente na sala
de espera, sentados numa poltrona amarela e em silêncio, Joanna e Erin sentiam-se
desconfortáveis. Os dois cientistas esperavam ansiosos por alguma notícia.
-Ele está lá há mais de uma hora, será
que ele tem alguma doença grave?-perguntou Joanna, observando Erin se levantar
e andar de um lado para outro.
-Vamos pensar positivo! Ele não tem
nada grave! Vamos pensar positivo!-grasnou Erin, com uma voz rouca.
Para alívio dos dois, um médico alto e
magro se aproximou.
-Vocês são os colegas de
David?-perguntou o médico.
-Sim! –responderam os dois ao mesmo
tempo.
-Tenho uma boa e uma má notícia, qual
vocês querem ouvir primeiro?
-Hum... Queremos a má noticia primeiro!
–respondeu Erin cada vez mais preocupado.
-Tudo bem... A má notícia é que não
conseguimos diagnosticar o problema de David. -falou o médico, bastante apreensivo.
-E a boa?-perguntou Joanna um pouco
angustiada.
-Bem, a boa notícia é que fizemos todos
os exames possíveis e nenhum deles indicou que David pode ter alguma doença
grave. Acreditamos que possa ser algo psicológico, mas ainda não podemos
afirmar com certeza. David parece estar muito estressado, então pode ser que
ele esteja sofrendo com sintomas de estresse ou até mesmo depressão.
-Então... O que vai acontecer com ele
agora?-perguntou Erin, olhando para o corredor, como se quisesse ver o seu amigo
por lá.
-David está dormindo agora. –falou o
médico, percebendo a preocupação de Erin. –Se vocês quiserem, podem vê-lo, mas
evitem dizer ou fazer algo que possa perturbá-lo.
-Sim, claro. –disse Erin, um pouco
aliviado de poder ver seu amigo.
Os dois cientistas e o médico caminharam
pelo corredor até chegar ao quarto de David. Ambos cuidadosos, Joanna e Erin se
aproximaram da cama e observaram seu companheiro de laboratório dormir
tranquilamente.
-Isso é bom, parece que ele não está
tendo pesadelos agora... –disse Erin, dando pequenos passos silenciosos e chegando
bem perto da cama.
-Pesadelos?-perguntam Joanna e o médico
ao mesmo tempo, encarando-se preocupados depois.
David começa a se virar de um lado para
outro. Seus movimentos são cada vez mais bruscos. Lentamente, ele abre os olhos
e depois de alguns segundos olhando para o teto, senta-se na cama.
-O que estou fazendo aqui?-perguntou
David ao avistar Erin.
-Não se lembra? Você começou a passar
mal, como se tivesse visto algo assustador e depois acabou desmaiando!-respondeu
Erin, franzindo a testa de tanta preocupação.
-Eu desmaiei? Não consigo me lembrar de
nada disso! -falou David, ignorando a preocupação de seu amigo, levantando-se
da cama e procurando seu jaleco e sapatos.
-Ei, o que pensa que está fazendo? Você
não pode sair daqui agora! Não é mesmo, doutor?-perguntou Erin, olhando
suplicante para o médico, que estava distraído.
-B-Bom, David está bem, só precisa de
um tempo para descansar, talvez seja melhor que ele tire uma licença para
cuidar de sua saúde... – respondeu o médico, procurando justificativas e
tentando esconder sua despreocupação.
-NÃO! EU ESTOU PERFEITAMENTE BEM! NÃO
VOU TIRAR LICENÇA NENHUMA!-falou David de um modo agressivo.
Depois de vestir seu jaleco e calçar
seus sapatos, David saiu do quarto rapidamente, como se estivesse fugindo.
-David, espere! Você precisa cuidar da
sua saúde! David! Estou preocupado com você!-grasnou Erin, tentando acompanhar
David, que andava rapidamente em direção à saída da ala hospitalar. O médico e
Joanna também correram e tentaram alcançá-lo.
-David, por favor, escute seu amigo!
–falou o médico, tentando andar rápido e se esquivando de macas e enfermeiros.
-David, quando você desmaiou, achei que
estivesse morto! Não é melhor você descansar um pouco para evitar que isso
possa acontecer novamente? –disse Joanna, quase alcançando Erin, que estava na
frente.
-TIRE UMA LICENÇA, POR FAVOR! -suplicou
Erin, cujos sapatos de borracha derrapavam no chão escorregadio do corredor da
ala hospitalar.
Depois de sair da ala hospitalar, David
diminuiu o passo. Erin finalmente o alcançou e Joanna também. O médico resolveu
voltar ao seu posto, pois um dos enfermeiros o chamou. David encarou Erin com
um olhar meio insano e revoltado.
-EU JÁ DISSE QUE NÃO VOU TIRAR LICENÇA!
NÃO ESTOU DOENTE E MUITO MENOS MORTO! ESTOU VIVO! ESTOU BEM! DEIXEM-ME EM PAZ!
–praguejou David, com seus óculos tortos escorregando pelo nariz. Ficou
ofegante de tanta fúria.
-Você não está bem, precisa se tratar!
–falou Erin, tentando puxar seu amigo de volta para a ala hospitalar.
-SOLTE-ME! O QUE FOI? QUER ME VER PELAS
COSTAS? POR QUÊ? QUER FICAR SOZINHO COM ELA? É ISSO? - gritou David, ofegante e
totalmente fora de si.
Erin o encarou como se não o
reconhecesse.
-ÓTIMO, SE VOCÊ ACHA QUE ESTÁ MESMO
BEM, ENTÃO NÃO VOU MAIS ME PREOCUPAR! SE ALGUMA COISA ACONTECER, NÃO VOU ME
IMPORTAR! VOCÊ É UM IDIOTA TEIMOSO! MUITO TEIMOSO!- exclamou Erin em alto tom
de voz, perdendo a paciência e voltando a passos largos para o setor 048,
deixando David e Joanna para trás.
Joanna encarou David com um olhar de
indignação.
-David, você exagerou, Erin estava
muito preocupado com você!-disse ela, dando-lhe as costas e tentando alcançar
Erin, que caminhava em direção ao seu novo setor.
-ATÉ VOCÊ? NÃO ERA VOCÊ QUE ESTAVA FURIOSA
COM ELE? AGORA VAI DEFENDÊ-LO?-grasnou David, já falando sozinho, pois Joanna
havia desaparecido na curva do corredor. –O que há de errado com eles... -David
suspirou e continuou a andar, meio cabisbaixo.
Poucos segundos depois, ele suspirou novamente.
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